sexta-feira, 8 de junho de 2018

ANÁLISE CRÍTICA DA OBRA AS CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO


ANÁLISE CRÍTICA DA OBRA
AS CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO

INTRODUÇÃO

            As confissões de Agostinho foi escrita após sua conversão, é um relato do doutor da igreja sobre como Deus agiu em sua vida conduzindo-o à verdade. Uma obra que toca muitas pessoas, ainda nos dias de hoje, devido a veracidade e atualidade de conflitos passados por quase todos os homens. Uma bela história cristã, mas também recheada de pensamentos filosóficos. Não podemos esquecer que o Santo autor, também era um dos maiores retóricos de sua época, o que facilitou muito a propagação e solidez de suas ideias.
            Nesta análise feita, observou-se mais os aspectos humanos, tentando purificar o verdadeiro Agostinho, ou seja, o homem que vivia no tempo de fato, não a visão que o novo convertido tinha de si mesmo. Essa visão, deturba o verdadeiro homem, dando sentido já a toda sua vida para uma caminhada de conversão, como por exemplo, os evangelhos que narram toda a história para culminar no Cristo, assim o faz em sua obra para dar sentido em tudo.

Livro I – Do Nascimento aos Quinze anos.

            Tenta falar de sua infância olhando e analisando a mesma de outros, obviamente não se lembra da fase de bebê, onde para ele, já demonstrava desejos carnais. O que é natural ao ser humano, isso como também todas suas dificuldades e alegrias de criança. Brincar, competir, vencer, mentir, fazia parte do seu cotidiano, por isso apanhava na escola dos educadores e naturalmente, como muitos, ficou com raiva do ambiente escolar. Dá a entender que além de não gostar também não estudava já que era desobediente. Um exagero aparentemente, já que de fato, foi um grande intelectual.
            O livro é recheado de enfeites e orações. Tudo que fez por causas carnais, ele converte em oração de perdão e atribui à ignorância da existência de Deus. Aquilo que não usou na vida cristã, se torna um martírio, já o que foi de proveito, diz ser providência divina.

Livro II – Os dezesseis anos

            Novamente, condena duramente seu passado. Que na verdade não é diferente da vida da maioria dos jovens da época e da atualidade. Amava os prazeres, as aventuras, de sentir tensão de fazer o proibido, como roubar frutos de uma árvore. Observando por um lado não radical como o dele de convertido, soa até como um ar cômico, tamanho peso na consciência de alguém por participar de jogos, montarias e roubar frutos que estavam ainda na árvore. Continuava, no entanto, em suas obrigações de estudos e deveres.
            Para ele nessa época, Deus estava onde Ele está para jovens dessa idade, no medo de punições, como algo que existe, mas não importa muito, a não ser como algo que se tem conhecimento e curiosidades. Parece ter uma relação de erros e punições, porém não se revela ao certo se, se sentia isso mesmo, ou se é mais um enfeite e adorno do grande retórico.

Livro III – Jovem Estudante

            Começa a sentir muito gosto pelas artes, severamente condenadas pelo “Agostinho velho”, por tratarem de coisas terrenas e não divinas. Já era muito bom em retórica na época, e usava dela para se divertir com novatos. Lia bastante e adquiriu muita cultura e experiência ao fazê-lo, apesar de ser condenado por si mesmo de se tratar de satisfazer as vaidades humanas. Em uma dessas leituras conheceu Hortênsio de Cícero, obra que lhe provocou o desejo de buscar a verdade e o conhecimento. Já participava da doutrina maniqueísta, tinha muitas dúvidas, mas já gozava dos santos católicos. Provavelmente não somente dos cristãos, mas de todos que não eram de sua doutrina, porém foca no que disse sobre os católicos devido ao peso que dá em sua velhice por tê-lo feito.
            Para esse convertido, o Deus cristão maquinava e trabalhava em todos os detalhes para que se convertesse. Para o Agostinho da época, provavelmente via Deus como um maniqueísta.

Livro IV – O Professor

            Valorizava boas conversas e pessoas inteligentes, principalmente por ser professor de retórica, sua maior qualidade. O velho santo diz de si mesmo: “Seduzido e sedutor, enganado e enganador”, provavelmente se sentia assim mesmo, porém sem remorso algum, já que todo sofista reconhece o que faz e como faz, ensina a mentir e a manipular. Tinha em vista uma carreira promissora e alegre, condenada pelo velho homem, de ambição e cobiça.
            Nesta fase recebe de forma mais direta o maior golpe da vida, a morte. Ao falecer um amigo vê a fragilidade da vida e com isso sua inutilidade. Parece ter percebido com o golpe que a vida um dia termina, e com isso perde o rumo. Começa a ter medo da morte, e tudo isso serve de impulso para começar a questionar ainda mais, principalmente o sentido da vida. Aparentemente um processo comum a todos os homens.
            Para fugir daquela dor, vai para outra cidade, e lá tenta retomar os prazeres e planos antigos, até consegue, mas nunca mais seria como antes. Diz que se encontrou com escritos de Aristóteles. E o homem convertido ainda se condena por ter fugido novamente para coisas passageiros, para o belo imperfeito. Tudo que amava fora de Deus considera como uma dor, pois tudo que se ama além da perfeição é mutável, logo gera sofrimento.

Livro V – Da África à Itália

             Começa seu processo de conversão de fato, tanto filosófico quanto espiritual. Iniciado pela morte do amigo e pela decepção de ouvir seu grande “herói” Fausto. Agostinho ainda era maniqueísta, porém nunca resolveu suas dúvidas, e ao finalmente encontrar-se com maior representante da seita, verificou que o mesmo não passava de um ignorante com uma grande habilidade de orador, resumindo, o mestre sofista descobriu o outro. Após a queda da seita, o santo passa a aderir a fé dos acadêmicos, que é duvidar de tudo e de todos. Quando vai para Roma, sua sede de admiração é saciada ao encontrar Ambrósio, começa a admirá-lo por suas capacidades de retórica, se atentava no como ele falava, não no que dizia.
            Sua verdadeira paixão com certeza foi a retórica, por ela foi para Roma, atrás e alunos disciplinados, também por dinheiro e status, e por ela se aproximou do bispo. Porém, sem que percebesse, com sua doutrina fragilizada, o cristianismo ia lhe penetrando o coração, e passa a ver que havia respostas para suas inquietações.

Livro VI – Agostinho aos 30 anos

Uma vez provocado pelas palavras de Ambrósio, passa a investigar a fé católica. Aprende que a bíblia deve ser lida em um contexto de mistério e não ao pé da letra. Sofre por ter que conciliar sua razão à fé, um processo que posteriormente será radicalizado no “cala e adora”.
Vivia comumente, possuía amigos que tinham as mesmas angústias. Queriam se empenhar em encontrar a verdade, buscavam uma causa para viver. O fato do matrimônio, apesar de desejar, lhe era um empecilho por tomar tempo de suas buscas. Em geral, ele e os amigos desejavam fugir do modo tradicional da vida que os incomodava pela falta de sentido.


Livro VII – A busca da Verdade

            Neste livro é mais complicado ainda perceber o seu verdadeiro processo de conversão, por trás do homem perdido, fala um Bispo absurdamente maduro na fé católica, que dá justificativas perfeitas e claras de suas buscas. Provavelmente Agostinho não as tinha tão formadas na mente como se de uma hora para outra viessem à tona.
            Aqui, o Doutor começa a direcionar seus questionamentos antigos para sua nova aventura, o mundo cristão, e nele começa finalmente obter respostas plausíveis. Já possui uma vontade de conhecer e aprofundar a fé católica. Em sua teoria do mutável, chega à conclusão que Deus é imutável, e que nele se pode colocar os desejos e anseios. Consegue ver luz em sua busca pela origem do mal. Finalmente conhece e se aprofunda em texto neoplatônicos, que o estimula em voltar para si mesmo. Nesse processo, vê que só Deus é essencial, o resto é desprezível, e que nada existe sem ele. Com esse suporte, conclui que o mal é ausência de Deus.
            Agostinho parece ter encontrado primeiramente conforto nas teorias platônicas, não em Deus em si, mas na ideia que algo é imutável e eterno, e nisso chamá-lo de Deus. Tanto que a partir desses raciocínios sente-se pequeno e distante do criador, mas encontra um elo entre o infinito e a criação no Cristo. Apesar de não o considerar Deus verdadeiramente ainda. Continuava buscando verdades incorpóreas, segundo o mestre Platão.

Livro VIII – A conversão.

            É possível dizer que nesse ponto, Agostinho já era como a maioria dos cristãos atuais, possuía uma experiência rasa e conhecimento médio sobre a doutrina, juntamente com o medo de abraçar radicalmente a religião e ter que deixar os velhos costumes principalmente as relações carnais. O movimento platônico somado com o cristianismo o fizeram desprezar as promessas seculares. Também já se importava com que dizia a bíblia como certa verdade. Já estava convertido, só não tinha coragem de dizê-lo por ter medo de não conseguir viver plenamente o que acreditava. Começa então a atentar-se em várias conversões, que deviam ser abundantes para todos os lados seja de cristão para seita, ou vive versa, porém buscava forças para finalmente se converter também.
            Até aqui, o santo homem tivera contato somente com Deus racionalmente. Apaixonara-se pelas doutrinas e verdades. Mas, quando lê a bíblia e encontra de forma “milagrosa” uma resposta, faz seu primeiro encontro pessoal com Deus de maneira íntima, deve ter se sentido correspondido, amado, cuidado. Resumindo, faz uma experiência de fé, não de razão e se converte verdadeiramente.

Livro IX – O Batismo e a Volta para a África

            A partir do fato citado, Agostinho começa a mudar de vida, fica ansioso para deixar as aulas de retórica. Sua busca ainda continua, porém tem uma finalidade, um sentido. Diz que consegue se libertar das mulheres e se tornar fiel à castidade. Coloca Deus em primeiro plano em sua vida, talvez mais que isso, o coloca como único plano. É finalmente batizado e agora tem maturidade de enfrentar as dificuldades que isso lhe impõe. Deseja ir em busca do que lhe agrada nessa etapa, a única verdade. Por ironia do destino, logo após sua conversão, perde seu filho e sua mãe, porém não cai nas trevas, e como bom católico cristão, tem sua tristeza saciada por refletir que ambos estão na cidade de Deus. A partir de agora esse será seu mais profundo anseio, o de unir-se a única razão da vida, ao imutável, ao eterno.

CONCLUSÃO

            A obra do doutor da igreja é fantástica em muitos aspectos, seja por ser atual, seja por possuir belas características literárias, por ser um testemunho verdadeiro e pessoal, e principalmente para os cristãos, é um exemplo de conversão e santidade. Mas esse último contexto, é o que causa o maior problema: Sua maneira não cronológica de fé. Ou seja, não expõe de forma clara seu processo humano e espiritual, sempre direciona tudo para a finalidade da conversão. Dá motivação e justificativas em excessos, parece de fato, um jovem recém convertido da RCC contando todas as suas especulações de como tudo que fazia antes era errado e condenável. Também é recheadíssimo de orações e parafraseados bíblicos. Chegando algumas vezes soar como apelação à sua verdade, sendo que com expressões menos floridas conseguiria mostrar seus sentimentos e verdades. Essa simplicidade parece ser impossível para ele, que durante toda a vida foi um profissional de retórica. Enfim, a obra é de suma importância e bela, mas os excessos do santo deixam no ar uma dúvida se sua experiência fora tão profunda e íntima, se realmente passou por tudo que disse da maneira que disse, ou se somos todos vítimas de sua fantástica habilidade de orador.
            Não se pode esquecer os novos caminhos que Agostinho abriu e aprofundou, sejam eles teológicos e filosóficos. De fato, algo marcante nele fora sua busca por sentido da vida, não à Deus, mas à verdade, que resultou no encontro com Deus, e fez com que ele aceitasse que essa verdade era Deus. Também ele, fortaleceu e batizou Platão ao cristianismo e combateu doutrinas errôneas e desvirtuadas. É relevante ressaltar que, em uma visão cristã, outro fato lhe exalta, a maneira em que assume a vida em Cristo. Nunca assumiu o batismo sem ter certeza que conseguiria ao mínimo tentar cumpri-lo. O homem pecador, ao se converter bruscamente morrerá com o título de santo. A ele cabe uma velha frase no meio cristão, “ou santos, ou nada”.

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