ANÁLISE CRÍTICA DA OBRA
AS CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO
AS CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO
INTRODUÇÃO
As confissões de
Agostinho foi escrita após sua conversão, é um relato do doutor da igreja sobre
como Deus agiu em sua vida conduzindo-o à verdade. Uma obra que toca muitas
pessoas, ainda nos dias de hoje, devido a veracidade e atualidade de conflitos
passados por quase todos os homens. Uma bela história cristã, mas também
recheada de pensamentos filosóficos. Não podemos esquecer que o Santo autor,
também era um dos maiores retóricos de sua época, o que facilitou muito a
propagação e solidez de suas ideias.
Nesta análise feita, observou-se mais os aspectos
humanos, tentando purificar o verdadeiro Agostinho, ou seja, o homem que vivia
no tempo de fato, não a visão que o novo convertido tinha de si mesmo. Essa
visão, deturba o verdadeiro homem, dando sentido já a toda sua vida para uma
caminhada de conversão, como por exemplo, os evangelhos que narram toda a
história para culminar no Cristo, assim o faz em sua obra para dar sentido em
tudo.
Livro
I – Do Nascimento aos Quinze anos.
Tenta falar de sua
infância olhando e analisando a mesma de outros, obviamente não se lembra da
fase de bebê, onde para ele, já demonstrava desejos carnais. O que é natural ao
ser humano, isso como também todas suas dificuldades e alegrias de criança.
Brincar, competir, vencer, mentir, fazia parte do seu cotidiano, por isso apanhava
na escola dos educadores e naturalmente, como muitos, ficou com raiva do
ambiente escolar. Dá a entender que além de não gostar também não estudava já
que era desobediente. Um exagero aparentemente, já que de fato, foi um grande
intelectual.
O livro é recheado de enfeites e orações. Tudo que fez
por causas carnais, ele converte em oração de perdão e atribui à ignorância da
existência de Deus. Aquilo que não usou na vida cristã, se torna um martírio,
já o que foi de proveito, diz ser providência divina.
Livro
II – Os dezesseis anos
Novamente, condena
duramente seu passado. Que na verdade não é diferente da vida da maioria dos
jovens da época e da atualidade. Amava os prazeres, as aventuras, de sentir
tensão de fazer o proibido, como roubar frutos de uma árvore. Observando por um
lado não radical como o dele de convertido, soa até como um ar cômico, tamanho
peso na consciência de alguém por participar de jogos, montarias e roubar
frutos que estavam ainda na árvore. Continuava, no entanto, em suas obrigações
de estudos e deveres.
Para ele nessa época, Deus estava onde Ele está para
jovens dessa idade, no medo de punições, como algo que existe, mas não importa
muito, a não ser como algo que se tem conhecimento e curiosidades. Parece ter
uma relação de erros e punições, porém não se revela ao certo se, se sentia
isso mesmo, ou se é mais um enfeite e adorno do grande retórico.
Livro
III – Jovem Estudante
Começa a sentir muito
gosto pelas artes, severamente condenadas pelo “Agostinho velho”, por tratarem
de coisas terrenas e não divinas. Já era muito bom em retórica na época, e
usava dela para se divertir com novatos. Lia bastante e adquiriu muita cultura
e experiência ao fazê-lo, apesar de ser condenado por si mesmo de se tratar de
satisfazer as vaidades humanas. Em uma dessas leituras conheceu Hortênsio de Cícero, obra que lhe
provocou o desejo de buscar a verdade e o conhecimento. Já participava da
doutrina maniqueísta, tinha muitas dúvidas, mas já gozava dos santos católicos.
Provavelmente não somente dos cristãos, mas de todos que não eram de sua
doutrina, porém foca no que disse sobre os católicos devido ao peso que dá em
sua velhice por tê-lo feito.
Para esse convertido, o Deus cristão maquinava e
trabalhava em todos os detalhes para que se convertesse. Para o Agostinho da
época, provavelmente via Deus como um maniqueísta.
Livro
IV – O Professor
Valorizava boas
conversas e pessoas inteligentes, principalmente por ser professor de retórica,
sua maior qualidade. O velho santo diz de si mesmo: “Seduzido e sedutor,
enganado e enganador”, provavelmente se sentia assim mesmo, porém sem remorso
algum, já que todo sofista reconhece o que faz e como faz, ensina a mentir e a
manipular. Tinha em vista uma carreira promissora e alegre, condenada pelo
velho homem, de ambição e cobiça.
Nesta fase recebe de forma mais direta o maior golpe da
vida, a morte. Ao falecer um amigo vê a fragilidade da vida e com isso sua
inutilidade. Parece ter percebido com o golpe que a vida um dia termina, e com
isso perde o rumo. Começa a ter medo da morte, e tudo isso serve de impulso
para começar a questionar ainda mais, principalmente o sentido da vida.
Aparentemente um processo comum a todos os homens.
Para fugir daquela dor, vai para outra cidade, e lá tenta
retomar os prazeres e planos antigos, até consegue, mas nunca mais seria como
antes. Diz que se encontrou com escritos de Aristóteles. E o homem convertido
ainda se condena por ter fugido novamente para coisas passageiros, para o belo
imperfeito. Tudo que amava fora de Deus considera como uma dor, pois tudo que
se ama além da perfeição é mutável, logo gera sofrimento.
Livro
V – Da África à Itália
Começa seu processo de conversão de fato,
tanto filosófico quanto espiritual. Iniciado pela morte do amigo e pela
decepção de ouvir seu grande “herói” Fausto. Agostinho ainda era maniqueísta,
porém nunca resolveu suas dúvidas, e ao finalmente encontrar-se com maior
representante da seita, verificou que o mesmo não passava de um ignorante com
uma grande habilidade de orador, resumindo, o mestre sofista descobriu o outro.
Após a queda da seita, o santo passa a aderir a fé dos acadêmicos, que é
duvidar de tudo e de todos. Quando vai para Roma, sua sede de admiração é
saciada ao encontrar Ambrósio, começa a admirá-lo por suas capacidades de retórica,
se atentava no como ele falava, não no que dizia.
Sua verdadeira paixão com certeza foi a retórica, por ela
foi para Roma, atrás e alunos disciplinados, também por dinheiro e status, e
por ela se aproximou do bispo. Porém, sem que percebesse, com sua doutrina
fragilizada, o cristianismo ia lhe penetrando o coração, e passa a ver que
havia respostas para suas inquietações.
Livro
VI – Agostinho aos 30 anos
Uma
vez provocado pelas palavras de Ambrósio, passa a investigar a fé católica.
Aprende que a bíblia deve ser lida em um contexto de mistério e não ao pé da
letra. Sofre por ter que conciliar sua razão à fé, um processo que
posteriormente será radicalizado no “cala e adora”.
Vivia
comumente, possuía amigos que tinham as mesmas angústias. Queriam se empenhar
em encontrar a verdade, buscavam uma causa para viver. O fato do matrimônio,
apesar de desejar, lhe era um empecilho por tomar tempo de suas buscas. Em
geral, ele e os amigos desejavam fugir do modo tradicional da vida que os
incomodava pela falta de sentido.
Livro
VII – A busca da Verdade
Neste livro é mais
complicado ainda perceber o seu verdadeiro processo de conversão, por trás do
homem perdido, fala um Bispo absurdamente maduro na fé católica, que dá
justificativas perfeitas e claras de suas buscas. Provavelmente Agostinho não
as tinha tão formadas na mente como se de uma hora para outra viessem à tona.
Aqui, o Doutor começa a direcionar seus questionamentos
antigos para sua nova aventura, o mundo cristão, e nele começa finalmente obter
respostas plausíveis. Já possui uma vontade de conhecer e aprofundar a fé
católica. Em sua teoria do mutável, chega à conclusão que Deus é imutável, e
que nele se pode colocar os desejos e anseios. Consegue ver luz em sua busca
pela origem do mal. Finalmente conhece e se aprofunda em texto neoplatônicos,
que o estimula em voltar para si mesmo. Nesse processo, vê que só Deus é
essencial, o resto é desprezível, e que nada existe sem ele. Com esse suporte,
conclui que o mal é ausência de Deus.
Agostinho parece ter encontrado primeiramente conforto
nas teorias platônicas, não em Deus em si, mas na ideia que algo é imutável e
eterno, e nisso chamá-lo de Deus. Tanto que a partir desses raciocínios
sente-se pequeno e distante do criador, mas encontra um elo entre o infinito e
a criação no Cristo. Apesar de não o considerar Deus verdadeiramente ainda.
Continuava buscando verdades incorpóreas, segundo o mestre Platão.
Livro
VIII – A conversão.
É possível dizer que
nesse ponto, Agostinho já era como a maioria dos cristãos atuais, possuía uma
experiência rasa e conhecimento médio sobre a doutrina, juntamente com o medo
de abraçar radicalmente a religião e ter que deixar os velhos costumes
principalmente as relações carnais. O movimento platônico somado com o
cristianismo o fizeram desprezar as promessas seculares. Também já se importava
com que dizia a bíblia como certa verdade. Já estava convertido, só não tinha
coragem de dizê-lo por ter medo de não conseguir viver plenamente o que
acreditava. Começa então a atentar-se em várias conversões, que deviam ser
abundantes para todos os lados seja de cristão para seita, ou vive versa, porém
buscava forças para finalmente se converter também.
Até aqui, o santo homem tivera contato somente com Deus
racionalmente. Apaixonara-se pelas doutrinas e verdades. Mas, quando lê a
bíblia e encontra de forma “milagrosa” uma resposta, faz seu primeiro encontro
pessoal com Deus de maneira íntima, deve ter se sentido correspondido, amado,
cuidado. Resumindo, faz uma experiência de fé, não de razão e se converte
verdadeiramente.
Livro
IX – O Batismo e a Volta para a África
A partir do fato
citado, Agostinho começa a mudar de vida, fica ansioso para deixar as aulas de
retórica. Sua busca ainda continua, porém tem uma finalidade, um sentido. Diz
que consegue se libertar das mulheres e se tornar fiel à castidade. Coloca Deus
em primeiro plano em sua vida, talvez mais que isso, o coloca como único plano.
É finalmente batizado e agora tem maturidade de enfrentar as dificuldades que
isso lhe impõe. Deseja ir em busca do que lhe agrada nessa etapa, a única
verdade. Por ironia do destino, logo após sua conversão, perde seu filho e sua
mãe, porém não cai nas trevas, e como bom católico cristão, tem sua tristeza
saciada por refletir que ambos estão na cidade de Deus. A partir de agora esse
será seu mais profundo anseio, o de unir-se a única razão da vida, ao imutável,
ao eterno.
CONCLUSÃO
A obra do doutor da igreja é fantástica em muitos
aspectos, seja por ser atual, seja por possuir belas características
literárias, por ser um testemunho verdadeiro e pessoal, e principalmente para
os cristãos, é um exemplo de conversão e santidade. Mas esse último contexto, é
o que causa o maior problema: Sua maneira não cronológica de fé. Ou seja, não
expõe de forma clara seu processo humano e espiritual, sempre direciona tudo
para a finalidade da conversão. Dá motivação e justificativas em excessos,
parece de fato, um jovem recém convertido da RCC contando todas as suas
especulações de como tudo que fazia antes era errado e condenável. Também é
recheadíssimo de orações e parafraseados bíblicos. Chegando algumas vezes soar
como apelação à sua verdade, sendo que com expressões menos floridas
conseguiria mostrar seus sentimentos e verdades. Essa simplicidade parece ser
impossível para ele, que durante toda a vida foi um profissional de retórica.
Enfim, a obra é de suma importância e bela, mas os excessos do santo deixam no
ar uma dúvida se sua experiência fora tão profunda e íntima, se realmente
passou por tudo que disse da maneira que disse, ou se somos todos vítimas de
sua fantástica habilidade de orador.
Não se pode esquecer os novos caminhos que Agostinho
abriu e aprofundou, sejam eles teológicos e filosóficos. De fato, algo marcante
nele fora sua busca por sentido da vida, não à Deus, mas à verdade, que
resultou no encontro com Deus, e fez com que ele aceitasse que essa verdade era
Deus. Também ele, fortaleceu e batizou Platão ao cristianismo e combateu doutrinas
errôneas e desvirtuadas. É relevante ressaltar que, em uma visão cristã, outro
fato lhe exalta, a maneira em que assume a vida em Cristo. Nunca assumiu o
batismo sem ter certeza que conseguiria ao mínimo tentar cumpri-lo. O homem
pecador, ao se converter bruscamente morrerá com o título de santo. A ele cabe
uma velha frase no meio cristão, “ou santos, ou nada”.
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