sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O PERFIL SOCRÁTICO DIANTE DAS OBRAS O JULGAMENTO DE SÓCRATES, A APOLOGIA E A DEFESA


EDUARDO WILLIAN DA SILVA
UNISAL- CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO
BACHARELADO EM FILOSOFIA
1º SEMESTRE DE 2017
DÍSCIPLINA: HISTÓRIA DA FILOSOFIA
PROFESSOR: P. DILSON PASSOS JUNIOR



INTRODUÇÃO

No livro O Julgamento de Sócrates apresenta uma visão bem diversa daquela que vê-se em Apologia, de Xenofonte, e A Defesa, de Platão, a respeito de sua conduta diante dos concidadãos, como o menosprezo diante a atuação política dos artesãos, pedreiros, ferreiros entre outros, ou seja, aqueles que eram de classe social baixa, e também seus pensamentos “espartanos” políticos que divergem e muito do que os cidadãos atenienses compreendiam, pois frisa fortemente as divergências partidárias, a diferença na compreensão de Virtude e Conhecimento, e a não participação na vida integral política, pois ele participava de modo indireto, principalmente no que se refere ao pensamento sobre a Justiça, salientando um ideal socrático antidemocrático. Este envolvimento com a política é forma que contraria o pensamento dos seus concidadãos, não fazendo juízo de qual é o ideal correto ou o errado, mas busca salientar as diferenças existentes nestes dois conceitos.
No que diz respeito ao julgamento, que também envolve a sua situação em relação à política, apresenta-se Sócrates como um “mártir da liberdade de expressão”, que no entanto, o caminho que o livro vai discorrendo, leva a perceber o desejo que ele queria apropriar-se da morte, pois poderia optar por inúmeras propostas feitas, quando foi acusado, como: exilar-se, pagar multa, entre outras, ou poderia evitar até mesmo a própria condenação, fazendo bom uso de sua retórica, para convencer o júri de sua inocência. Assim, desmistificará a sua imagem diante da Pólis e também para o próprio leitor.



O JULGAMENTO DE SÓCRATES


PRIMEIRA PARTE: SÓCRATES E ATENAS

AS DIVERGÊNCIAS BÁSICAS

Aborda-se neste capítulo as divergências partidárias que aconteciam em meados do século V a.C., ou seja, Oligarquia (regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família) contra a Democracia (governo em que o povo exerce a soberania). Discorrem sobre a melhor forma de governo para a Pólis, diversos filósofos apresentam suas contribuições, opiniões e soluções para os problemas que enfrentam. Além disso, a forma como Sócrates é apresentado por Xenofonte e por Platão, diferem-se quanto se trata de um ideal da Pólis.



SÓCRATES E HOMERO

A narrativa de homérica não se harmoniza com o ideal Socrático de governo da Pólis, entretanto já contém o germe, que futuramente indicará com caminhos para uma forma adequada de governo.
As narrações feitas (Odisseia, Ilíadas) eram conhecidas por grande parte da população que compreendia o pensamento de “pastor do povo” como um ideal totalmente diverso do que era proposto anteriormente, como o conceito de Homem Civilizado, ou de Lei e Justiça, vividos conforme os costumes. Temos, então, algo que se aproxima mais de uma monarquia constitucional, do que o governo “daqueles que sabem”, perante “os que não sabem. ”


UMA PISTA NO EPISÓDIO DE TERSITES

Percebe-se que dentre as acusações que Sócrates recebeu, está a corrupção da juventude no qual utilizava-se de trechos imorais dos famosos poetas, para torna-los tiranos e insolentes, sendo chamado de antidemocrata. Este capítulo gira em torno deste pensamento, enxertando ainda mais a diferença entre Sócrates e os ideais daquela época, a partir de sua literatura.
Xenofonte nas Memoráveis, defende Sócrates da acusação contra a democracia, entretanto, neste capítulo, defende-se a ideia de que ele omitiu frases do texto de Homero para defende-lo. Tersites, que confronta Odisseu, é o primeiro a pensar na ideia de um homem do povo, com direito de expressão, porém seu pensamento não é bem aceito.


A NATUREZA DA VIRTUDE E DO CONHECIMENTO

Este capítulo apresente a segunda divergência básica entre Sócrates e a Pólis, que é a questão sobre a Virtude, gerando outra dúvida, a respeito do Conhecimento. Estes problemas apresentados, para Sócrates, têm peso político, pois se o Conhecimento é uma Virtude e todos os homens podem ser virtuosos, logo podem adquirir tal Conhecimento, ou seja, não há divisões de classes sociais. Entretanto, este pensamento afirma que a comunidade era um rebanho, incapaz de governar a si própria, pois o verdadeiro Conhecimento era inatingível, e a grande maioria das pessoas não possuíam tanto a Virtude, quanto o Conhecimento. Esta diferença reflete nos diálogos em Sócrates e os Sofistas.
A defesa da democracia é apresentada e Sócrates é obrigado a enfrenta-la no diálogo com Protágoras. Este também descreve em um mito feito por ele, que tem base filosófica no autogoverno, no qual Sócrates ignora a democracia ateniense, sendo considerado um inimigo.

A CORAGEM COMO VIRTUDE

Sócrates afirma que a coragem por ser Virtude é também Conhecimento. Entretanto, Aristóteles contesta esta visão que em seu livro, Ética a Nicomaco, diz que o Conhecimento, considerada por ele como Virtude social, às vezes, acovarda até mesmo os soldados mais corajosos, porém em outros casos a coragem transcende o conhecimento. O diálogo entre Laques e Sócrates, leva-o a um beco sem saída diante de suas próprias proposições ao longo do discurso.
            Grande parte dos escritos dos diálogos de Sócrates há o questionamento a respeito das Virtudes, de sua origem. Neste capítulo, apresenta uma visão crítica a respeito do método no qual ele utiliza-se nos diálogos, transpassando uma visão negativa das coisas e sem formar sua própria proposição durante a conversa, tendo sempre a intenção de confrontar a democracia. Sua doutrina, antidemocrática, no qual aqueles que sabem devem governar, está ligada a busca de certezas absolutas, ou seja, de definições a respeito da Virtude e do Conhecimento. O desprezo pela democracia e pela gente comum é um tema recorrente nos discursos de Sócrates.
            Assim, apresenta-se vários argumentos para apresentar as contradições em seus discursos e a fragilidade de seu pensamento.


UMA BUSCA INÚTIL: SÓCRATES E AS DEFINIÇÕES ABSOLUTAS

Para Sócrates só se conhecia realmente algo se pudesse definir de modo absoluto. Isto fez com que sua busca se tornasse mais frutuosa, também, para os próximos filósofos que surgiram, utilizando-se deste pensamento para caminharem mais profundamente a respeito de vários assuntos. Mais uma vez, mostra-o com um filósofo que confunde o raciocínio dos seus interlocutores, fazendo analogias complexas ou até mesmo patéticas.
Nos discursos, sua intenção é ridicularizar a democracia, entretanto, muitas vezes é ele que se torna ridículo, perante suas colocações. Apresenta uma maneira arrogante no falar, quando se trata da missão recebida pelo oráculo de Delfos e que o definiu como o mais sábio de todos os homens, por compreender que não conhece todas as coisas e quem ele interrogava sabia ainda menos.
Este capítulo apresenta de forma negativa tudo quanto Sócrates pensou e filosofou junto aos seus contemporâneos, com exceção a busca das definições absoluta das coisas. Sempre frisando sua imagem antidemocrática.


SÓCRATES E A RETÓRICA
           
            Os principais órgãos de autogoverno eram a assembleia, onde se faziam as leis, e os tribunais, onde eram interpeladas e aplicadas. Os cidadãos, fossem eles a minoria ou a maioria da população, tinham de aprender a falar com clareza e argumentar afim de proteger seus próprios interesses, assim a necessidade de um bom uso da retórica fez cada vez mais necessário.
            O Sócrates descrito por Platão abomina a arte da retórica, adotando uma visão negativíssima da mesma, no Górgias, que para ele é uma atividade astuta e galharda (viril). Desprezava os comerciantes que frequentavam a assembleia, não admitia que poderiam contribuir com algo. Busca sempre enfatizar a incapacidade de autogoverno dos homens, pois não dominam o conhecimento necessário. Assim, é apresentado, mais uma vez, um Sócrates de ataca a todo momento a democracia.


O IDEAL DE VIDA: A TERCEIRA DIVERGÊNCIA SOCRÁTICA

Este capítulo apresente a terceira divergência básica entre Sócrates e os seus concidadãos, ele pregava e praticava a não-participação na vida política da cidade, porém os gregos acreditavam que os cidadãos se educavam e se aperfeiçoavam através de uma participação integral na vida e nos negócios da cidade, assim as virtudes ganham sentido quando são exercidas em comunidade; não há possibilidade de haver justiça em uma vida solitária.
Apresenta-se Sócrates como uma pessoa isenta diante das decisões ocorridas na Pólis no qual ele não se manifestava, vê-se nele um certo distanciamento: “Pode parecer estranho que eu circule por todo o canto a dar conselhos particulares, mas não me aventure a vir à assembleia para dar conselhos à cidade” (Stone, 1988, p.131). O dêmos  que ele desprezava tinha uma consciência para qual podia apelar, como na história de Diodoto, que conseguiu fazer com que a piedade prevalecesse mesmo diante de uma oposição do principal líder democrático da cidade, Cléon. Entretanto, Sócrates participa integralmente dos negócios da cidade, segundo a Apologia de Platão, no julgamento dos generais, pois ele enfatizava o agir com justiça, porém é apenas parte da atuação na cidade.


OS PRECONCEITOS DE SÓCRATES

             Sócrates mostra-se indiferente aos homens atenienses mais simples, que só se importam em ganhar dinheiro. Sua origem aparentemente pobre, gera dúvidas de como ele sustentava sua família não praticando nenhum ofício, porém há indícios de que ele tenha recebido herança de seu pai, pois lutou como hoplita, isto é, na infantaria pesada, onde os próprios atenienses arcavam com os custos dos equipamentos militares. Pode ser por isso que ele menospreza que é inferior socialmente a ele.
            É admirado por seu inconformismo, mas poucos se dão conta que ele se rebelava contra uma sociedade aberta e admirava uma sociedade fechada, como Creta e Esparta. Aristófanes personifica a imagem de Sócrates a de um espartano, pela sua maneira de vestir-se, comportar-se e pensar a política.
            Este capítulo frisa os “traços espartanos” nas ações de Sócrates afirmando que os jovens “laconômanos” de Atenas eram “socratizados”, ou seja, levados a pensar da mesma forma que ele. Sendo assim, propagava a campanha contra a liberdade e a democracia ateniense.




SEGUNDA PARTE:  A PROVAÇÃO

POR QUE ESPERARAM TANTO?

Este capítulo apresenta as diversas peças em que Sócrates era satirizado, como: As Nuvens e Konnos, dois teatros principais de comédia que levaram prêmios em um festival anual da cidade de Dionísina, terceiro e segundo lugar, respectivamente. Além da peça Os Pássaros, encenada 18 anos antes do julgamento de Sócrates. Estes pensamentos apresentados pelas comédias, mostravam que os concidadãos o consideravam um excêntrico, embora inteligente. Porém, as chamadas “comédias antigas” não foram os principais incentivos que levaram Sócrates ao julgamento, mesmo que pudesse gerar ódio para com ele.
Apesar das diferentes compreensões de deuses que Sócrates, Platão, Xenofonte entres outros e o cidadãos atenienses tinham, o que gerou, realmente, mal-estar entre Sócrates e seus concidadãos, foram suas ideias partidárias e não suas concepções filosóficas ou teológicas. Aparentemente ele desvia a atenção das questões mais relevantes, discutindo sobre religião.


OS TRÊS TERREMOTOS

“Em 411 e em 404, elementos descontentes, em conivência com o inimigo espartano, derrubaram a democracia e estabeleceram ditaduras, instaurando o terror. Em 401 a.C., apenas dois anos antes do julgamento, houve mais uma tentativa de golpe” (Stone, 1988, p.147), estes acontecimentos alarmantes, provavelmente, adiaram a queixa contra Sócrates que já demonstrava suas divergências partidárias.
Sócrates é acusado de participar de conspirações secretas que lutavam contra a democracia, “visam originalmente garantir a eleição de membros partidário oligárquico (...)” (Stone, 1988, p.149), mas uma vez busca salientar a capacidade que ele tinha de incentivar o desejo pelo governo antidemocrático, além dos fatos, como a catástrofe de Siracusa, favorecer outras conspirações dos aristocratas. Quando ele é levado ao julgamento, estas questões estavam presentes na memória do povo ateniense. Porém em sua defesa, encontrou argumento para conseguir provar que nem todos eram aristocratas antidemocráticos.
Diante destes conflitos ocorridos em 411, 404 e 401 esperava de Sócrates uma postura diferente, em relação ao governo da cidade, entretanto, ao que parece, ele não “aprendeu” nada com os fatos, considerado como alguém que vivia nas nuvens.


XENOFONTE, PLATÃO E OS TRÊS TERREMOTOS

Xenofonte e Platão eram adolescentes quando estabeleceu-se a ditadura dos Quatrocentos em 411 a. C.
Xenofonte no livro Memoráveis relata que Sócrates utilizou-se de uma de suas mais ilustres analogias para criticar a ditadura. Apesar das proibições e das críticas que ele sofrera por ensinar os jovens, sendo até proibido de utilizar-se da retórica, continuou sua missão, mesmo que em segredo, apesar dos Trinta estarem pressionando-o. Desde o início do regime, Sócrates não se manifestava efetivamente, no qual poderia ter se tornado um herói, porém ele estava apenas preocupado com as definições absolutas de Justiça, Piedade e etc. além disso, afirma Xenofonte que o próprio Sócrates foi vítima da ditadura.
Platão omitiu alguns pensamentos de Sócrates, como uma forma de conservá-lo das acusações feitas sobre seus pensamentos políticos, e também porque ele provavelmente entraria em contradição com aquilo que acreditava. Ele ainda escreve dois mitos antidemocratas como uma forma de colocar na classe média e nos pobres uma sensação de inferioridade, para assim, se submeterem aos reis-filósofos, que são: Atlântica e a Nobre mentira. Julga ter provado que o absolutismo é a única forma legítima de governo.


O PRINCIPAL ACUSADOR
O principal acusador de Sócrates e Ânito, apesar de não ser o mais famoso que no caso é Meleto, ele era quem realmente tinha peso, pois havia restaurado a democracia, além de Crítias ser a principal testemunha de acusação, no que diz respeito ao “corromper” a juventude. Ânito é um dos líderes ricos de classe que combate em favor da ditadura aristocrática estreita.
Tanto ele quanto Sócrates presavam muito pela formação dos jovens e acabaram gerando rinchas entre si, até mesmo por conta do próprio filho de Ânito, que o afasta com medo de que seja corrompido por pensamentos socráticos, sendo até capaz de fazer com que o filho voltasse contra seu próprio pai.
Este general de guerra do Peloponeso, homem influente, ganha algumas lendas cinco séculos após o julgamento de Sócrates. Segundo o autor, os atenienses com remorso voltaram-se contra os acusadores. Porém esta lenda não procede, pois nem Xenofonte e nem Platão escreveram nada a respeito disso.



COMO SÓCRATES FEZ TUDO PARA HOSTILIZAR O JÚRI

Xenofonte, que não estava presente no julgamento, insistiu com seu mestre para que este preparasse uma defesa eloquente, porque os júris eram influenciados pela retórica. O júri votava duas vezes. Na primeira a margem de diferença foi de 6%, ou seja, 280 votos a favor da morte e 220 contra, caso houvesse empate, 250 para cada lado, ele seria absolvido, porém Sócrates, ao que parece, queria morrer. Escreve Xenofonte: “ E enquanto a Sócrates, ao se exaltar perante o tribunal, ele granjeou má vontade e assegurou a própria condenação”, além de mencionar sua missão privilegiada pelo Oráculo de Delfos.
O fato de Sócrates estar decidido a morrer fica ainda mais claro na segunda parte do julgamento, tendo o condenado o réu, o júri não poderia escolher a pena, deixando a defesa escolher, mas ele recusou-se em escolher qualquer outra contraproposta. Mesmo com a insistência de Críton, ele nega a ir escolhendo a morte, que de uma forma ou outra, ia contra si mesmo. Mas para ele a morte é a realização final, levando a sério seu misticismo.


COMO SÓCRATES PODERIA FACILMENTE TER OBTIDO A ABSOLVIÇÃO

“Quando Atenas processou Sócrates, a cidade se traiu. O paradoxo, a vergonha do julgamento de Sócrates é o fato de uma cidade famosa pela liberdade de expressão (...)” (Stone, 1988, p.201), sendo considerado um julgamento de ideias. Este poderia ser um caminho no qual ele poderia ter se livrado da condenação, mas como vimos nos capítulos anteriores, parece que ele não quer ser absolvido.
A acusação feita a Sócrates referente ao ateísmo não tem um fundamento capaz de acusa-lo a pena de morte, pois, Aristófanes, em suas comédias, debochava dos deuses podendo também ser considerado um ateu, mas o povo ateniense ria de suas peças, dando a interpretação que a impiedade, heresia ou blasfêmia não causasse tanta intolerância neles. Entretanto, sua verdadeira acusação é pelo fato de ele não crer nos “deuses da cidade”, um crime político. Punir um filósofo por causa de suas opiniões certamente não era um modo adequado de honrar a deusa de Persuasão ou Zeus que simbolizava e promovia o debate livre.


O QUE SÓCRATES DEVERIA TER DITO
                                                                                       
Sócrates, em seu discurso diante do júri, poderia ter enfatizado a liberdade de expressão tão quista e defendida pela sociedade ateniense, porque, além disso, ele sendo filósofo estava sempre em busca de respostas, podendo mudar frequentemente seus pensamentos e conceitos, sendo ainda mais necessário a possibilidade de expressar-se livremente.
Ele conclui acusando Ânito de impor a “lei do silêncio” a uma cidade que tinha a liberdade de expressão como fonte de vida. Se Sócrates tivesse recorrido a este tema tão aderido pelos cidadãos atenienses, seria provável que adquiriria respeito por Atenas, e a não a condescendência irônica.
“O que caracteriza a verdadeira liberdade de expressão não é o fato de o dito ou o ensinamento conformar-se a qualquer norma ou governante, seja este um indivíduo ou um colégio (...) A liberdade de discordar é que é a liberdade de expressão”. (Stone, 1988, p. 216), afirma Sócrates.



AS QUATRO PALAVRAS

As palavras usadas denominam o próprio pensamento do indivíduo, por isso o capítulo examina as palavras empregadas pelos homens da época. Descobre-se, então, quatro denominações para a liberdade de expressão, mostrando que o valor que o povo grego dava a isto.
Primeiramente a igualdade política baseava-se no direito de livre expressão, que é representada por duas palavras que contém o termo isos (igual), a saber: isonomia (isonomia), mesmo sentido em português e isotes (igualdade). Além dessas, outras que designam o direito de se exprimir livremente: isegoria e isologia.
Isologia aparece no século III na qual “vigorava em sua assembleia federal, como símbolo de garantia de que as cidades-estados membros tinham plena igualdade política” (Stone, 1988, p.219). Já a palavra isegoria e apresentada por Heródoto quando discorre o papel heroico desempenhado pelos atenienses nas guerras contra os persas, atribuindo sua bravura à conquista de isegoria, ou seja, direito de todos se manifestarem igualmente em assembleia.
Outra palavra que designa liberdade de pensamento em grego é parrhesia, que aparece pela primeira vez em Eurípides, trata-se de uma palavra cunhada de dois sentidos: um deles era a pessoal: franqueza, sinceridade; o outro era político: liberdade de expressão.


A QUESTÃO FINAL

Sócrates poderia ter argumentado que as Leis rompiam o contrato, exigindo a liberdade de expressão, o cidadão não lhe devia mais nenhuma obrigação. “Ao perder o direito de persuadir, ele ganhava o direito de resistir” (Stone, 1988, p.229), ou seja, que as Leis negaram a ele tal liberdade. Entretanto, nem Platão e nem Xenofonte mencionam, em seus escritos, ao referente a este conceito, apontando que para Sócrates isto não teria tanta importância assim.
Ele não defende a liberdade, pois não vê sentido em um escravo ter o mesmo “valor” de expressão que o seu dono que pagou por ele. Talvez seja porque no fundo não aceite a democracia, assim não queria que a democracia obtivesse uma vitória libertando-o, fazendo de tudo para que fosse condenado, seja não se defender ou atacar o júri.


EPÍLOGO
TERIA HAVIDO UMA CAÇA ÀS BRUXAS EM ATENAS?

            A idade de ouro ateniense também se caracterizou pelo banimento de estudiosos, como Protágoras, Anaxágoras, Diágoras, além da repressão do pensamento e na queima de livros. Sócrates poderia ter seguido o mesmo caminho aceitando a pena de banimento, mas preferiu ficar e tomar cicuta.
            A peça feita por Plutarco, a Vida de Péricles, causou polêmica ao satirizar a lei que proibia não acreditar no sobrenatural e ensinar astronomia, lei que teria sido proposta por Diopites, que constituía em uma exceção gritante à legislação e às tradições atenienses. Reforçando mais ainda a rigidez deste período. Além disso, escreveu a Vida de Nícias mostrando o quanto o povo ateniense era supersticioso. Por isso, gera dúvidas a respeito das condenações de Protágoras e Anaxágoras, pois, estes filósofos estudavam sobre a astronomia, mas não há certeza a respeito de suas condenações.
SÓCRATES: HERÓI OU BANDIDO?

            Considera-se Sócrates como um dos maiores personagens da história, por tudo que contribuiu em seus ensinamentos. É, pois, representado de diferentes visões, seja de maneira mitificada, como é apresentado por Platão, “reduzida” como diz Xenofonte, ou demasiado cômico e ridicularizado, como Aristófanes o descreve.
            Havia divergências entre Sócrates e a Pólis, uma delas era a respeito à “duas questões que para Sócrates- mas não para sua cidade- estavam inextricavelmente associadas: o que era a Virtude? (...) isso levantava a segunda pergunta: o que é o conhecimento? ” (Stone, 1988, p.54). Seus ideais entravam em conflito com a situação atual de Atenas, em que, muitas vezes sua intenção era ridicularizar a democracia, porque ele acreditava em outro ideal de governo, a aristocracia. Entretanto, muitas vezes é ele que se torna ridículo perante suas colocações, apresentando uma maneira arrogante no falar, principalmente quando trata-se da suposta missão recebida pelo oráculo de Delfos, que o definiu como o mais sábio de todos os homens.
            Ele é admirado por seu inconformismo, ou seja, busca constantemente responder da melhor forma aos problemas apresentados, mas poucos se dão conta que ele se rebelava contra uma sociedade aberta e admirava uma sociedade fechada, como Creta e Esparta. “Aristófanes personifica a imagem de Sócrates a de um espartano, pela sua maneira de vestir-se, comportar-se e pensar a política” (Stone, 1988, p.132).
            As acusações na qual Sócrates recebeu e foi condenado à morte, pode, em primeiro momento, dar a intenção de haver injustiça para com ele, porém seus ideais divergiam das de seus concidadãos, que também visavam o bem da Pólis, fazendo com que ele parecesse um rebelde que lutava contra a democracia, e de fato o era, mas buscava o bem comum. Segundo Platão, “seu herói viveu e morreu de acordo com seus princípios” (Stone, 1988, p.233), acreditando que aquilo que ele propunha era o essencial.
            Em contrapartida, “ele não iria querer que a democracia por ele rejeitada obtivesse uma vitória moral- libertando-o da prisão” (Stone, 1988, p.233), então reluta para não ser libertado, não acatando nenhuma outra possibilidade de condenação, como a exclusão da cidade, ou o pagamento de fiança. Ele não se justifica, pelo contrário, enfrenta o júri de modo sarcástico, pois, como um mestre da retórica poderia convencê-los a libertá-lo.
            Assim, não cabe culpa-lo ou condená-lo diante dos pressupostos apresentados, pois ele como um cidadão tinha o direito da liberdade de expressão, mas também o compromisso com a Pólis visando o bem comum. Seja incompreendido, ou não, precisava caminhar ao lado de seus concidadãos.

                                                                

CONCLUSÃO

            É notório que a priori entenda-se o julgamento feito a Sócrates de forma injusta como sendo a penal capital, mera incoerência. Entretanto há possibilidades de questionamentos a respeito de uma mitificação em torno dele, que pode ter sido um gênio, um subversor ou nenhuma das duas coisas, ou apenas mais um homem como qualquer um, incomparável a qualquer um outro.
            Seus ideias diversos dos que eram apresentados, obtiveram suas consequências que foi o julgamento, onde poderia ter evitado a morte, porém comprometido com a verdade que ele apresentava, não quis evita-la, não fazendo-o um herói, ou um bandido, mas um personagem histórico que deixou marcas profundas na filosofia e em outras diversas áreas.





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