EDUARDO WILLIAN DA SILVA
UNISAL-
CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO
BACHARELADO
EM FILOSOFIA
1º
SEMESTRE DE 2017
DÍSCIPLINA:
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
PROFESSOR:
P. DILSON PASSOS JUNIOR
INTRODUÇÃO
No livro O Julgamento de Sócrates apresenta uma
visão bem diversa daquela que vê-se em Apologia,
de Xenofonte, e A Defesa, de Platão, a
respeito de sua conduta diante dos concidadãos, como o menosprezo diante a
atuação política dos artesãos, pedreiros, ferreiros entre outros, ou seja, aqueles
que eram de classe social baixa, e também seus pensamentos “espartanos”
políticos que divergem e muito do que os cidadãos atenienses compreendiam, pois
frisa fortemente as divergências partidárias, a diferença na compreensão de
Virtude e Conhecimento, e a não participação na vida integral política, pois
ele participava de modo indireto, principalmente no que se refere ao pensamento
sobre a Justiça, salientando um ideal socrático antidemocrático. Este
envolvimento com a política é forma que contraria o pensamento dos seus
concidadãos, não fazendo juízo de qual é o ideal correto ou o errado, mas busca
salientar as diferenças existentes nestes dois conceitos.
No que diz
respeito ao julgamento, que também envolve a sua situação em relação à
política, apresenta-se Sócrates como um “mártir da liberdade de expressão”, que
no entanto, o caminho que o livro vai discorrendo, leva a perceber o desejo que
ele queria apropriar-se da morte, pois poderia optar por inúmeras propostas
feitas, quando foi acusado, como: exilar-se, pagar multa, entre outras, ou
poderia evitar até mesmo a própria condenação, fazendo bom uso de sua retórica,
para convencer o júri de sua inocência. Assim, desmistificará a sua imagem
diante da Pólis e também para o
próprio leitor.
O JULGAMENTO DE SÓCRATES
PRIMEIRA PARTE: SÓCRATES E
ATENAS
AS DIVERGÊNCIAS BÁSICAS
Aborda-se
neste capítulo as divergências partidárias que aconteciam em meados do século V
a.C., ou seja, Oligarquia (regime
político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas,
pertencentes ao mesmo partido, classe ou família) contra a Democracia (governo
em que o povo exerce a soberania). Discorrem sobre a melhor forma de governo
para a Pólis, diversos filósofos
apresentam suas contribuições, opiniões e soluções para os problemas que
enfrentam. Além disso, a forma como Sócrates é apresentado por Xenofonte e por
Platão, diferem-se quanto se trata de um ideal da Pólis.
SÓCRATES E HOMERO
A narrativa de
homérica não se harmoniza com o ideal Socrático de governo da Pólis, entretanto já contém o germe, que
futuramente indicará com caminhos para uma forma adequada de governo.
As narrações
feitas (Odisseia, Ilíadas) eram conhecidas por grande parte da população que compreendia o
pensamento de “pastor do povo” como um ideal totalmente diverso do que era
proposto anteriormente, como o conceito de Homem Civilizado, ou de Lei e
Justiça, vividos conforme os costumes. Temos, então, algo que se aproxima mais
de uma monarquia constitucional, do que o governo “daqueles que sabem”, perante
“os que não sabem. ”
UMA PISTA NO EPISÓDIO DE
TERSITES
Percebe-se que
dentre as acusações que Sócrates recebeu, está a corrupção da juventude no qual
utilizava-se de trechos imorais dos famosos poetas, para torna-los tiranos e
insolentes, sendo chamado de antidemocrata. Este capítulo gira em torno deste
pensamento, enxertando ainda mais a diferença entre Sócrates e os ideais
daquela época, a partir de sua literatura.
Xenofonte nas Memoráveis, defende Sócrates da
acusação contra a democracia, entretanto, neste capítulo, defende-se a ideia de
que ele omitiu frases do texto de Homero para defende-lo. Tersites, que
confronta Odisseu, é o primeiro a pensar na ideia de um homem do povo, com
direito de expressão, porém seu pensamento não é bem aceito.
A
NATUREZA DA VIRTUDE E DO CONHECIMENTO
Este capítulo
apresente a segunda divergência básica entre Sócrates e a Pólis, que é a questão sobre a Virtude, gerando outra dúvida, a
respeito do Conhecimento. Estes problemas apresentados, para Sócrates, têm peso
político, pois se o Conhecimento é uma Virtude e todos os homens podem ser
virtuosos, logo podem adquirir tal Conhecimento, ou seja, não há divisões de
classes sociais. Entretanto, este pensamento afirma que a comunidade era um
rebanho, incapaz de governar a si própria, pois o verdadeiro Conhecimento era
inatingível, e a grande maioria das pessoas não possuíam tanto a Virtude,
quanto o Conhecimento. Esta diferença reflete nos diálogos em Sócrates e os
Sofistas.
A defesa da
democracia é apresentada e Sócrates é obrigado a enfrenta-la no diálogo com
Protágoras. Este também descreve em um mito feito por ele, que tem base
filosófica no autogoverno, no qual Sócrates ignora a democracia ateniense,
sendo considerado um inimigo.
A CORAGEM COMO VIRTUDE
Sócrates afirma
que a coragem por ser Virtude é também Conhecimento. Entretanto, Aristóteles
contesta esta visão que em seu livro, Ética
a Nicomaco, diz que o Conhecimento, considerada por ele como Virtude
social, às vezes, acovarda até mesmo os soldados mais corajosos, porém em
outros casos a coragem transcende o conhecimento. O diálogo entre Laques e
Sócrates, leva-o a um beco sem saída diante de suas próprias proposições ao
longo do discurso.
Grande parte dos escritos dos
diálogos de Sócrates há o questionamento a respeito das Virtudes, de sua
origem. Neste capítulo, apresenta uma visão crítica a respeito do método no
qual ele utiliza-se nos diálogos, transpassando uma visão negativa das coisas e
sem formar sua própria proposição durante a conversa, tendo sempre a intenção
de confrontar a democracia. Sua doutrina, antidemocrática, no qual aqueles que
sabem devem governar, está ligada a busca de certezas absolutas, ou seja, de
definições a respeito da Virtude e do Conhecimento. O desprezo pela democracia
e pela gente comum é um tema recorrente nos discursos de Sócrates.
Assim, apresenta-se vários
argumentos para apresentar as contradições em seus discursos e a fragilidade de
seu pensamento.
UMA BUSCA INÚTIL: SÓCRATES
E AS DEFINIÇÕES ABSOLUTAS
Para Sócrates
só se conhecia realmente algo se pudesse definir de modo absoluto. Isto fez com
que sua busca se tornasse mais frutuosa, também, para os próximos filósofos que
surgiram, utilizando-se deste pensamento para caminharem mais profundamente a
respeito de vários assuntos. Mais uma vez, mostra-o com um filósofo que
confunde o raciocínio dos seus interlocutores, fazendo analogias complexas ou
até mesmo patéticas.
Nos discursos,
sua intenção é ridicularizar a democracia, entretanto, muitas vezes é ele que se
torna ridículo, perante suas colocações. Apresenta uma maneira arrogante no
falar, quando se trata da missão recebida pelo oráculo de Delfos e que o definiu
como o mais sábio de todos os homens, por compreender que não conhece todas as
coisas e quem ele interrogava sabia ainda menos.
Este capítulo
apresenta de forma negativa tudo quanto Sócrates pensou e filosofou junto aos
seus contemporâneos, com exceção a busca das definições absoluta das coisas.
Sempre frisando sua imagem antidemocrática.
SÓCRATES E A RETÓRICA
Os principais órgãos de autogoverno
eram a assembleia, onde se faziam as leis, e os tribunais, onde eram
interpeladas e aplicadas. Os cidadãos, fossem eles a minoria ou a maioria da
população, tinham de aprender a falar com clareza e argumentar afim de proteger
seus próprios interesses, assim a necessidade de um bom uso da retórica fez
cada vez mais necessário.
O Sócrates descrito por Platão
abomina a arte da retórica, adotando uma visão negativíssima da mesma, no Górgias, que para ele é uma atividade
astuta e galharda (viril). Desprezava os comerciantes que frequentavam a
assembleia, não admitia que poderiam contribuir com algo. Busca sempre
enfatizar a incapacidade de autogoverno dos homens, pois não dominam o
conhecimento necessário. Assim, é apresentado, mais uma vez, um Sócrates de
ataca a todo momento a democracia.
O IDEAL DE VIDA: A
TERCEIRA DIVERGÊNCIA SOCRÁTICA
Este
capítulo apresente a terceira divergência básica entre Sócrates e os seus
concidadãos, ele pregava e praticava a não-participação na vida política da
cidade, porém os gregos acreditavam que os cidadãos se educavam e se
aperfeiçoavam através de uma participação integral na vida e nos negócios da
cidade, assim as virtudes ganham sentido quando são exercidas em comunidade;
não há possibilidade de haver justiça em uma vida solitária.
Apresenta-se
Sócrates como uma pessoa isenta diante das decisões ocorridas na Pólis no qual ele não se manifestava,
vê-se nele um certo distanciamento: “Pode parecer estranho que eu circule por
todo o canto a dar conselhos particulares, mas não me aventure a vir à
assembleia para dar conselhos à cidade” (Stone, 1988, p.131). O dêmos que ele desprezava tinha uma consciência para
qual podia apelar, como na história de Diodoto, que conseguiu fazer com que a
piedade prevalecesse mesmo diante de uma oposição do principal líder
democrático da cidade, Cléon. Entretanto, Sócrates participa integralmente dos
negócios da cidade, segundo a Apologia
de Platão, no julgamento dos generais, pois ele enfatizava o agir com justiça,
porém é apenas parte da atuação na cidade.
OS
PRECONCEITOS DE SÓCRATES
Sócrates mostra-se indiferente aos homens
atenienses mais simples, que só se importam em ganhar dinheiro. Sua origem
aparentemente pobre, gera dúvidas de como ele sustentava sua família não
praticando nenhum ofício, porém há indícios de que ele tenha recebido herança
de seu pai, pois lutou como hoplita, isto é, na infantaria pesada, onde os
próprios atenienses arcavam com os custos dos equipamentos militares. Pode ser
por isso que ele menospreza que é inferior socialmente a ele.
É admirado por seu inconformismo,
mas poucos se dão conta que ele se rebelava contra uma sociedade aberta e
admirava uma sociedade fechada, como Creta e Esparta. Aristófanes personifica a
imagem de Sócrates a de um espartano, pela sua maneira de vestir-se,
comportar-se e pensar a política.
Este capítulo frisa os “traços
espartanos” nas ações de Sócrates afirmando que os jovens “laconômanos” de
Atenas eram “socratizados”, ou seja, levados a pensar da mesma forma que ele.
Sendo assim, propagava a campanha contra a liberdade e a democracia ateniense.
SEGUNDA PARTE: A PROVAÇÃO
POR QUE ESPERARAM TANTO?
Este capítulo
apresenta as diversas peças em que Sócrates era satirizado, como: As Nuvens e Konnos, dois teatros
principais de comédia que levaram prêmios em um festival anual da cidade de
Dionísina, terceiro e segundo lugar, respectivamente. Além da peça Os Pássaros, encenada 18 anos antes do
julgamento de Sócrates. Estes pensamentos apresentados pelas comédias,
mostravam que os concidadãos o consideravam um excêntrico, embora inteligente. Porém,
as chamadas “comédias antigas” não foram os principais incentivos que levaram
Sócrates ao julgamento, mesmo que pudesse gerar ódio para com ele.
Apesar das
diferentes compreensões de deuses que Sócrates, Platão, Xenofonte entres outros
e o cidadãos atenienses tinham, o que gerou, realmente, mal-estar entre
Sócrates e seus concidadãos, foram suas ideias partidárias e não suas
concepções filosóficas ou teológicas. Aparentemente ele desvia a atenção das
questões mais relevantes, discutindo sobre religião.
OS TRÊS TERREMOTOS
“Em 411 e em
404, elementos descontentes, em conivência com o inimigo espartano, derrubaram
a democracia e estabeleceram ditaduras, instaurando o terror. Em 401 a.C.,
apenas dois anos antes do julgamento, houve mais uma tentativa de golpe”
(Stone, 1988, p.147), estes acontecimentos alarmantes, provavelmente, adiaram a
queixa contra Sócrates que já demonstrava suas divergências partidárias.
Sócrates é
acusado de participar de conspirações secretas que lutavam contra a democracia,
“visam originalmente garantir a eleição de membros partidário oligárquico
(...)” (Stone, 1988, p.149), mas uma vez busca salientar a capacidade que ele
tinha de incentivar o desejo pelo governo antidemocrático, além dos fatos, como
a catástrofe de Siracusa, favorecer outras conspirações dos aristocratas. Quando
ele é levado ao julgamento, estas questões estavam presentes na memória do povo
ateniense. Porém em sua defesa, encontrou argumento para conseguir provar que
nem todos eram aristocratas antidemocráticos.
Diante destes
conflitos ocorridos em 411, 404 e 401 esperava de Sócrates uma postura diferente,
em relação ao governo da cidade, entretanto, ao que parece, ele não “aprendeu”
nada com os fatos, considerado como alguém que vivia nas nuvens.
XENOFONTE, PLATÃO E OS
TRÊS TERREMOTOS
Xenofonte e
Platão eram adolescentes quando estabeleceu-se a ditadura dos Quatrocentos em
411 a. C.
Xenofonte no
livro Memoráveis relata que Sócrates
utilizou-se de uma de suas mais ilustres analogias para criticar a ditadura.
Apesar das proibições e das críticas que ele sofrera por ensinar os jovens,
sendo até proibido de utilizar-se da retórica, continuou sua missão, mesmo que
em segredo, apesar dos Trinta estarem pressionando-o. Desde o início do regime,
Sócrates não se manifestava efetivamente, no qual poderia ter se tornado um
herói, porém ele estava apenas preocupado com as definições absolutas de
Justiça, Piedade e etc. além disso, afirma Xenofonte que o próprio Sócrates foi
vítima da ditadura.
Platão omitiu
alguns pensamentos de Sócrates, como uma forma de conservá-lo das acusações
feitas sobre seus pensamentos políticos, e também porque ele provavelmente
entraria em contradição com aquilo que acreditava. Ele ainda escreve dois mitos
antidemocratas como uma forma de colocar na classe média e nos pobres uma
sensação de inferioridade, para assim, se submeterem aos reis-filósofos, que
são: Atlântica e a Nobre mentira. Julga ter provado que o
absolutismo é a única forma legítima de governo.
O PRINCIPAL ACUSADOR
O principal
acusador de Sócrates e Ânito, apesar de não ser o mais famoso que no caso é
Meleto, ele era quem realmente tinha peso, pois havia restaurado a democracia,
além de Crítias ser a principal testemunha de acusação, no que diz respeito ao
“corromper” a juventude. Ânito é um dos líderes ricos de classe que combate em
favor da ditadura aristocrática estreita.
Tanto ele
quanto Sócrates presavam muito pela formação dos jovens e acabaram gerando
rinchas entre si, até mesmo por conta do próprio filho de Ânito, que o afasta
com medo de que seja corrompido por pensamentos socráticos, sendo até capaz de
fazer com que o filho voltasse contra seu próprio pai.
Este general de
guerra do Peloponeso, homem influente, ganha algumas lendas cinco séculos após
o julgamento de Sócrates. Segundo o autor, os atenienses com remorso
voltaram-se contra os acusadores. Porém esta lenda não procede, pois nem
Xenofonte e nem Platão escreveram nada a respeito disso.
COMO SÓCRATES FEZ TUDO
PARA HOSTILIZAR O JÚRI
Xenofonte, que
não estava presente no julgamento, insistiu com seu mestre para que este
preparasse uma defesa eloquente, porque os júris eram influenciados pela
retórica. O júri votava duas vezes. Na primeira a margem de diferença foi de
6%, ou seja, 280 votos a favor da morte e 220 contra, caso houvesse empate, 250
para cada lado, ele seria absolvido, porém Sócrates, ao que parece, queria
morrer. Escreve Xenofonte: “ E enquanto a Sócrates, ao se exaltar perante o
tribunal, ele granjeou má vontade e assegurou a própria condenação”, além de
mencionar sua missão privilegiada pelo Oráculo de Delfos.
O fato de
Sócrates estar decidido a morrer fica ainda mais claro na segunda parte do
julgamento, tendo o condenado o réu, o júri não poderia escolher a pena, deixando
a defesa escolher, mas ele recusou-se em escolher qualquer outra
contraproposta. Mesmo com a insistência de Críton, ele nega a ir escolhendo a
morte, que de uma forma ou outra, ia contra si mesmo. Mas para ele a morte é a
realização final, levando a sério seu misticismo.
COMO SÓCRATES PODERIA
FACILMENTE TER OBTIDO A ABSOLVIÇÃO
“Quando Atenas
processou Sócrates, a cidade se traiu. O paradoxo, a vergonha do julgamento de
Sócrates é o fato de uma cidade famosa pela liberdade de expressão (...)”
(Stone, 1988, p.201), sendo considerado um julgamento de ideias. Este poderia
ser um caminho no qual ele poderia ter se livrado da condenação, mas como vimos
nos capítulos anteriores, parece que ele não quer ser absolvido.
A acusação
feita a Sócrates referente ao ateísmo não tem um fundamento capaz de acusa-lo a
pena de morte, pois, Aristófanes, em suas comédias, debochava dos deuses
podendo também ser considerado um ateu, mas o povo ateniense ria de suas peças,
dando a interpretação que a impiedade, heresia ou blasfêmia não causasse tanta
intolerância neles. Entretanto, sua verdadeira acusação é pelo fato de ele não
crer nos “deuses da cidade”, um crime político. Punir um filósofo por causa de
suas opiniões certamente não era um modo adequado de honrar a deusa de Persuasão
ou Zeus que simbolizava e promovia o debate livre.
O
QUE SÓCRATES DEVERIA TER DITO
Sócrates,
em seu discurso diante do júri, poderia ter enfatizado a liberdade de expressão
tão quista e defendida pela sociedade ateniense, porque, além disso, ele sendo
filósofo estava sempre em busca de respostas, podendo mudar frequentemente seus
pensamentos e conceitos, sendo ainda mais necessário a possibilidade de
expressar-se livremente.
Ele
conclui acusando Ânito de impor a “lei do silêncio” a uma cidade que tinha a
liberdade de expressão como fonte de vida. Se Sócrates tivesse recorrido a este
tema tão aderido pelos cidadãos atenienses, seria provável que adquiriria
respeito por Atenas, e a não a condescendência irônica.
“O
que caracteriza a verdadeira liberdade de expressão não é o fato de o dito ou o
ensinamento conformar-se a qualquer norma ou governante, seja este um indivíduo
ou um colégio (...) A liberdade de discordar é que é a liberdade de expressão”.
(Stone, 1988, p. 216), afirma Sócrates.
AS QUATRO PALAVRAS
As
palavras usadas denominam o próprio pensamento do indivíduo, por isso o capítulo
examina as palavras empregadas pelos homens da época. Descobre-se, então,
quatro denominações para a liberdade de expressão, mostrando que o valor que o
povo grego dava a isto.
Primeiramente
a igualdade política baseava-se no direito de livre expressão, que é
representada por duas palavras que contém o termo isos (igual), a saber: isonomia
(isonomia), mesmo sentido em português e isotes (igualdade). Além dessas, outras que designam o direito de
se exprimir livremente: isegoria e isologia.
Isologia aparece no século III na qual “vigorava
em sua assembleia federal, como símbolo de garantia de que as cidades-estados
membros tinham plena igualdade política” (Stone, 1988, p.219). Já a palavra isegoria e apresentada por Heródoto
quando discorre o papel heroico desempenhado pelos atenienses nas guerras
contra os persas, atribuindo sua bravura à conquista de isegoria, ou seja, direito de todos se manifestarem igualmente em
assembleia.
Outra
palavra que designa liberdade de pensamento em grego é parrhesia, que aparece pela primeira vez em Eurípides, trata-se de
uma palavra cunhada de dois sentidos: um deles era a pessoal: franqueza,
sinceridade; o outro era político: liberdade de expressão.
A QUESTÃO FINAL
Sócrates
poderia ter argumentado que as Leis rompiam o contrato, exigindo a liberdade de
expressão, o cidadão não lhe devia mais nenhuma obrigação. “Ao perder o direito
de persuadir, ele ganhava o direito de resistir” (Stone, 1988, p.229), ou seja,
que as Leis negaram a ele tal liberdade. Entretanto, nem Platão e nem Xenofonte
mencionam, em seus escritos, ao referente a este conceito, apontando que para
Sócrates isto não teria tanta importância assim.
Ele
não defende a liberdade, pois não vê sentido em um escravo ter o mesmo “valor”
de expressão que o seu dono que pagou por ele. Talvez seja porque no fundo não
aceite a democracia, assim não queria que a democracia obtivesse uma vitória
libertando-o, fazendo de tudo para que fosse condenado, seja não se defender ou
atacar o júri.
EPÍLOGO
TERIA HAVIDO UMA CAÇA ÀS
BRUXAS EM ATENAS?
A idade de ouro ateniense também se
caracterizou pelo banimento de estudiosos, como Protágoras, Anaxágoras,
Diágoras, além da repressão do pensamento e na queima de livros. Sócrates
poderia ter seguido o mesmo caminho aceitando a pena de banimento, mas preferiu
ficar e tomar cicuta.
A peça feita por Plutarco, a Vida de Péricles, causou polêmica ao
satirizar a lei que proibia não acreditar no sobrenatural e ensinar astronomia,
lei que teria sido proposta por Diopites, que constituía em uma exceção
gritante à legislação e às tradições atenienses. Reforçando mais ainda a
rigidez deste período. Além disso, escreveu a Vida de Nícias mostrando o quanto o povo ateniense era
supersticioso. Por isso, gera dúvidas a respeito das condenações de Protágoras
e Anaxágoras, pois, estes filósofos estudavam sobre a astronomia, mas não há
certeza a respeito de suas condenações.
SÓCRATES: HERÓI OU
BANDIDO?
Considera-se Sócrates como um dos
maiores personagens da história, por tudo que contribuiu em seus ensinamentos.
É, pois, representado de diferentes visões, seja de maneira mitificada, como é
apresentado por Platão, “reduzida” como diz Xenofonte, ou demasiado cômico e
ridicularizado, como Aristófanes o descreve.
Havia divergências entre Sócrates e
a Pólis, uma delas era a respeito à
“duas questões que para Sócrates- mas não para sua cidade- estavam
inextricavelmente associadas: o que era a Virtude? (...) isso levantava a
segunda pergunta: o que é o conhecimento? ” (Stone, 1988, p.54). Seus ideais
entravam em conflito com a situação atual de Atenas, em que, muitas vezes sua
intenção era ridicularizar a democracia, porque ele acreditava em outro ideal
de governo, a aristocracia. Entretanto, muitas vezes é ele que se torna
ridículo perante suas colocações, apresentando uma maneira arrogante no falar,
principalmente quando trata-se da suposta missão recebida pelo oráculo de
Delfos, que o definiu como o mais sábio de todos os homens.
Ele é admirado por seu
inconformismo, ou seja, busca constantemente responder da melhor forma aos
problemas apresentados, mas poucos se dão conta que ele se rebelava contra uma
sociedade aberta e admirava uma sociedade fechada, como Creta e Esparta.
“Aristófanes personifica a imagem de Sócrates a de um espartano, pela sua
maneira de vestir-se, comportar-se e pensar a política” (Stone, 1988, p.132).
As acusações na qual Sócrates
recebeu e foi condenado à morte, pode, em primeiro momento, dar a intenção de haver
injustiça para com ele, porém seus ideais divergiam das de seus concidadãos,
que também visavam o bem da Pólis, fazendo
com que ele parecesse um rebelde que lutava contra a democracia, e de fato o
era, mas buscava o bem comum. Segundo Platão, “seu herói viveu e morreu de
acordo com seus princípios” (Stone, 1988, p.233), acreditando que aquilo que
ele propunha era o essencial.
Em contrapartida, “ele não iria
querer que a democracia por ele rejeitada obtivesse uma vitória moral-
libertando-o da prisão” (Stone, 1988, p.233), então reluta para não ser
libertado, não acatando nenhuma outra possibilidade de condenação, como a
exclusão da cidade, ou o pagamento de fiança. Ele não se justifica, pelo
contrário, enfrenta o júri de modo sarcástico, pois, como um mestre da retórica
poderia convencê-los a libertá-lo.
Assim, não cabe culpa-lo ou
condená-lo diante dos pressupostos apresentados, pois ele como um cidadão tinha
o direito da liberdade de expressão, mas também o compromisso com a Pólis visando o bem comum. Seja
incompreendido, ou não, precisava caminhar ao lado de seus concidadãos.
CONCLUSÃO
É notório que a priori entenda-se o
julgamento feito a Sócrates de forma injusta como sendo a penal capital, mera
incoerência. Entretanto há possibilidades de questionamentos a respeito de uma
mitificação em torno dele, que pode ter sido um gênio, um subversor ou nenhuma
das duas coisas, ou apenas mais um homem como qualquer um, incomparável a
qualquer um outro.
Seus ideias diversos dos que eram
apresentados, obtiveram suas consequências que foi o julgamento, onde poderia
ter evitado a morte, porém comprometido com a verdade que ele apresentava, não
quis evita-la, não fazendo-o um herói, ou um bandido, mas um personagem
histórico que deixou marcas profundas na filosofia e em outras diversas áreas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário