EDUARDO WILLIAN DA SILVA
HISTÓRIA DA
FILOSOFIA
UNISAL- CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO
DE SÃO PAULO
2º SEMESTRE DE 2017
BACHARELADO EM FILOSOFIA
CONFISSÕES
INTRODUÇÃO
Aurélio
Agostinho, o Santo Agostinho de Hipona foi um importante bispo cristão e
teólogo. Nasceu na região norte da África em 354 e morreu em 430. Era filho de
mãe que seguia o cristianismo, porém seu pai era pagão. Sua vida pode ser
analisada em diversas perspectivas, o contexto histórico, a angustia na busca
pela verdade, ou seja, a passagem que faz por outras doutrinas, bem como o
maniqueísmo, o ceticismo, até, posteriormente, abraçar a fé cristã e a
filosofia.
Apesar de
sofrer influências, desde crianças, respeito da fé cristã, o santo relutou muito
até desejar abraça-la. Foi, pois, mediante a tantos acontecimentos simultâneos,
como o contato com Santo Ambrósio, a conversão dos amigos, a ida para Itália e
a angustia que sofria em prol do desejo de encontrar respostas para suas
questões, ou seja, a origem do mal, como sendo a principal. Severas reflexões
fizeram-no emergir do íntimo e expuseram-no toda a miséria à contemplação do
coração.
O Maniqueísmo
na vida de Agostinho é fator determinante para uma melhor compreensão da
atuação de Deus. Mesmo que diante de algumas heresias levantadas por essa
doutrina, sua chave de leitura em meio ao caos, no qual passava o santo, foi um
grande passo dado em direção a si mesmo e, consequentemente, a Deus.
Livro I- Do nascimento aos quinzes anos.
Agostinho
apresenta-se como um rapaz imaturo que ainda está compreendendo a si mesmo e as
coisas. Sente-se, por parte dele, desconforto e arrependimento por ter vivido
algumas partes da sua infância de maneira, interpretada por ele, errônea.
Principalmente no que se refere aos estudos. “Para minha infelicidade, não
entendi a utilidade desse trabalho; mas se me mostrava preguiçoso, era
castigado a vara” (AGOSTINHO, 1984, p.27).
“Ainda menino,
comecei a dirigir-me a ti, como a ‘meu rochedo e meu refúgio’” (AGOSTINHO,
1984), frisa o santo, mediante as dificuldades que enfrentava na escola, para
que Deus o livrasse. Sua consciência diante de Deus é de pecador, por haver de
desobedecer seus pais, pois “amava as disputas e o orgulho da vitória”
(AGOSTINHO, 1984), isto fazia com que vivesse em distrações, não cumprindo o
que lhe era pedido.
A visão que o
santo tem de si é que seu corpo, ou seja, suas atitudes, mancham a pureza da
alma. Percepção e compreensão fortemente platônica, no qual o corpo e a prisão
da alma, que é pura, e necessita purificar-se e manter-se assim. “Quanto teria
sido preferível para mim ser logo curado e esforçar-me, eu e os meus, para
conservar intacta a saúde da minha alma” (AGOSTINHO, 1984). Em seus escritos,
rejeita tudo o que se trata como mundano, até mesmo a literatura.
Livro II- Os dezesseis anos
Neste capítulo
vê-se Agostinho na puberdade, desfrutando dos prazeres causados por esta fase,
mas também por sua necessidade de mostra-se aos outros, de sentir orgulhoso e
importante. Manifestando a arrogância que estava presente nele. Tinha o prazer
de praticar o que era proibido (AGOSTINHO, 1984).
Sua ligação com
Deus, na adolescência, era muito distante. Denota-se uma pessoa que gostava de
curtir festas, de satisfazer os seus desejos, próprio de um jovem aventureiro.
Nisto se manifesta, mais uma vez um sentido de culpa, porém vista sob o ângulo
da “pós conversão”. Entretanto, era vivido de maneira totalmente livre de
qualquer culpa. Assim, ele compreende que Deus calava-se vendo suas atitudes.
“Desde a adolescência, ardi em desejos de me satisfazer em
coisas baixas, ousando entregar-me como animal a vários e tenebrosos amores!
Desgastou-se a beleza da minha alma e apodreci aos teus olhos, enquanto eu
agradava a mim mesmo e procurava ser agradável aos olhos dos homens”
(AGOSTINHO, 1984, p. 45).
Denota-se,
nesta fase da vida do santo, certa tendência ao Epicurismo, ou seja, ele
buscava a Ataraxia, a paz interior,
desfrutando-se dos prazeres, porém sem nunca desejar sofre-los. Entretanto, o
desejo deste ideal, só encontrou, posteriormente, em Deus. “Quem mergulha em ti
‘entra no gozo do Senhor’” (AGOSTINHO, 1984, p. 58).
Livro
III- Jovem estudante
Após
sua mudança para Cartago, desejos, vontades e prazeres carnais ainda eram muito
presentes na vida do santo. Assim, manchava as fontes da amizade com a sordidez
da concupiscência e turbava a pureza delas com a espuma infernal das paixões
(AGOSTINHO, 1984). Atraía- lhe os
sofrimentos alheios, imaginário, teatral, seduziam- lhe o desejo de chorar
pelos gestos do ator, pois buscava motivos de dor, uma forma aplacar suas
misérias.
Em
Agostinho dá a impressão de um Deus que pune conforme as más condutas, porém de
forma à educa-lo. “Por isso me punistes com graves castigos; mas estes eram
nada diante das minhas culpas (...)” (AGOSTINHO, 1984. p. 65). O amor a
sabedoria despertado por Hortênsio de Cícero, culminou no desejo por conhecer
as Sagradas Escrituras, um livro que não se abre aos soberbos.
A
busca de Agostinho em saciar a sua fome interior, ou seja, encontrar a Deus,
fez rejeitar as simples e profundas palavras a Bíblia e também aderir ao
Maniqueísmo, heresia que, posteriormente, será combatida por ele. Descia os
degraus das profundezas do inferno, atormentado pela sede da verdade enquanto
buscava a Deus (AGOSTINHO, 1984).
O
Maniqueísmo na vida de Agostinho é fator determinante para uma melhor
compreensão da atuação de Deus. Mesmo que diante de algumas heresias levantadas
por essa doutrina, sua chave de leitura em meio ao caos, no qual passava o
santo, foi um grande passo dado em direção a si mesmo e, consequentemente, a
Deus. Por desconhecer tais fatos, ria-se dos cristãos. Porém, compreende que
era ele, que deveria ser escarnecido, por acreditar em tolices (AGOSTINHO,
1984).
Livro IV- O professor
Agostinho,
inteligente como era, muitas vezes foi seduzido e sedutor, enganado e
enganador, em meio às diversas paixões, ensinando, em público, as ciências
chamadas liberais e, em particular, praticando uma religião indigna de tal
nome. Utilizava-se da retórica como sustento de vida e também do próprio ego. Após
a morte de seu amigo, encontrava-se desolado e banho em tristezas, unindo as suas
angustias pela verdade das coisas. “Eu era infeliz, como infeliz é todo
espírito subjugado pelo amor às coisas mortais, cuja perda o dilacera, e então
deixe perceber a extensão da infelicidade que já o oprimia antes de perde-la”
(AGOSTINHO, 1984, p. 93).
O
“deus do santo” era como um fantasma irreal, era o seu próprio erro, no qual a
alma não encontrava lugar para descansar. Os dias se sucediam, e, com o passar do tempo,
novas esperanças e outras lembranças, que não fosse a morte do amigo, se
apresentavam, sua alma encontrava força para não deixar esvair-se mais ainda da
Verdade. Foi-se percebendo que o mal pelo qual passava não era um Sumo Mal que
guiava tais ações, como se fosse um outro deus, assim como ensinava o
maniqueísmo, mas a ausência das escolhas boas. Entendia que a realidade é
material, ou seja, corpórea, impedindo-o de compreender a verdade, por meio,
também, das coisas espirituais. Não compreendia a ação de Deus.
Livro V- Da África à
Itália
Ainda
em Cartago, ao encontrar um Bispo maniqueu chamado Fausto, Agostinho admira-se
a inteligência que este possuía, a maneira eloquente que envolvera já muitas
pessoas. Precedia-o a fama de homem competentíssimo nas ciências mais nobres.
Porém, Agostinho em uma visão mais avançada, ou seja, depois de abraçar a
doutrina cristã, salienta que a “piedade é sabedoria”, e tudo quando
descobriu-se de eclipse, calendários, horas, nada se compara a uma alma que
está inundada em Deus.
Ele
coloca em dúvida a doutrina do maniqueísmo, após o encontro com Fausto. A busca
pelos astros, sol, lua, e outras ciências, não pareciam satisfazer a angustia
que sentia, ao tentar responder as questões que lhe causava isso, ou seja, de
onde parte todo este conhecimento, quem o rege. Quanto ao mais, o ardor que
tivera em progredir nesta seite que abraçara arrefeceu completamente logo que
conheceu este homem, mas não ao ponto de desligar-se radicalmente dos
maniqueístas. Com feito, não encontrando solução melhor, decidira contentar-se
temporariamente com ela, até encontrar ao mais claro que merecesse ser abraço
(AGOSTINHO, 1984).
Acudira-se
o fato da ideia de que os mais esclarecidos entres os filósofos eram os
chamados Acadêmicos, quando afirmava ser preciso duvidar de tudo, e que o homem
nada pode compreender da verdade, (talvez seja desse conceito que ele
compreende que a Verdade, Deus, só pode ser conhecido se Ele se der a conhecer,
ou seja, pela iluminação dada pelo mesmo).
Os
fatos ocorridos na vida Agostinho foram convergindo para o seu encontro com a
fé cristã, pois desejava aprofundar-se nas Sagradas Escrituras, mediante ao que
sentia com as críticas que os maniques faziam a certas passagens. Além disso,
sua dificuldade em ensinar retórica em Roma, também contribuiu para tal evento.
Seu
encontro com Santo Ambrósio encantou-o pela maneira pelo qual discursava nem
tanto pelo que conteúdo, pois seguia o maniqueísmo. Seu principal interesse
pela fé católica, não foi pelo que pregava, mas sim pela maneira que era
discursada, ou seja, o “poder de retórica”. Assim, abraçou previamente ao
catecumenato da Igreja católica.
Livro VI- Agostinho aos
trinta anos
A
angustia do Santo de Hipona tornava-se calma a cada palavra que era pronunciada
pelos lábios de Ambrósio. Estimava-o como a um “mensageiro de Deus”. Tinha
sempre a oportunidade de consultar o santo oráculo que residia no coração
daquele homem, para sanar suas dúvidas.
Tais
palavras que eram ouvidas e que acalentavam-lhe o coração, passaram a clarear
as nuvens que haviam na busca pela verdade, pois encontrava-as nos cursos de
Ambrósio. A compreensão das Sagradas Escrituras foi o motivo pelo qual
Agostinho abraçou a fé católica. Entendia-a ao pé da letra e assim era mais
“fácil de criticar”, ou parecer uma mentira, como fábulas absurdas, incapazes
de demonstração. Parece que ele encontrou familiaridade entre a fé
relacionando-a com o que buscava, levando-o a interpretá-la com “olhares
platônicos”. Segundo seu entendimento, a Sagrada Escritura é um caminho que
leva a verdade.
Livro VII- A busca da
verdade
A
ideia de um ser imutável, inviolável, incorruptível perpassa, também, nas
reflexões filosóficas de Agostinho. Entendia que tudo aquilo que é sujeito à
corrupção é certamente inferior àquilo que não é, ou seja, o que não é passível
de corrupção, colocava acima do que era. Um conceito fortemente enraizado nos
primeiros filósofos quando buscava uma arché
que contemplasse todas as coisas. Parece que o santo compreende bem isto.
A
questão da origem do mal, tão discutida pelos maniqueístas, levou-o à colocar
em cheque, tal doutrina.
Se tememos o mal sem motivo algum, é esse temor um mas,
enquanto sem motivo nos perturba o coração, e tanto mais grave quanto nada há
que temer. Portanto, ou o mal que tememos existe, ou o próprio fato de teme-lo
é um mal. Mas de onde vem o mal, se Deus é bom e fez todas as coisas boas?
(AGOSTNHO, 1984. p 175).
Tais eram as
reflexões que agitavam seu pobre espírito, já sob o peso da pungente
preocupação de morrer sem conseguir descobrir a verdade. A leitura dos
platônicos leva Agostinho a buscar no próprio intimo a verdade e assim passa a
rejeitar o dualismo maniqueísta. Para ele, todas as coisas são boas e não podem
não ser. Pois, o mal que procurava não é uma substância, porque se fosse seria
um bem.
A relação
Agostinho e Deus intensificou-se mediante a estes acontecimentos que foram
ocorrendo. Mesmo que ele afastasse por “fraquezas carnais”, seu coração estava
voltado a Deus e já não duvidava absolutamente da existência de um ser a quem
deveria estar unido.
Livro VIII- A conversão
A conversão de
seu amigo Vitorino contado por Simpliciano despertou-lhe curiosidade e atenção
quanto a fé católica, pois além de transformar a maneira de pensar e enxergar o
mundo, ele renunciou ao que lhe mais agradava que era poder lecionar literatura
e retórica, porque o imperador Juliano estipulara uma lei que proibia os
cristãos de exercer tal função. Apesar de Agostinho querer seguir o mesmo
caminho, a sua “vontade férrea” impedia-lhe.
As peças do quebra-cabeça
de Deus na vida de Agostinho iam sendo paulatinamente encaixadas e as trevas da
escuridão da alma se esvaindo, seja pela conversão dos amigos, pelas atitudes
da mãe, pelo testemunho dos cristãos ou pela Sagrada Escritura, o seu interior
era inundado por tantas inquietações.
A tempestade
interior era cada vez mais intensa, tantos acontecimentos simultâneos, tantas
doutrinas diferentes e nada de encontrar a verdade que lhe acalmasse e lhe
desce paz. Severas reflexões fizeram-no emergir do íntimo e expuseram-no toda a
miséria à contemplação do coração (AGOSTINHO, 1984). Assim, em meio a inúmeros
acontecimentos a leitura da Sagrada Escritura foi determinante para a sua
conversão. Narra o santo:
Peguei-o, abri e li em silêncio o primeiro capítulo sobre o
qual caiu o meu olhar: “Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e
libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e
não procureis satisfazer os desejos da carne”.[1]
Não quis ler mais, nem era necessário. Mal terminara a leitura dessa frase,
dissiparam-se em mim todas as trevas da dúvida, como se penetrasse no meu
coração uma luz de certeza. (AGOSTINHO, 1984, p. 227).
Enfim,
encontrou em Deus a possibilidade de responder as questões que mais lhe
causavam desconforto e agora passa a debruçar-se nesta doutrina, mas com a
intenção de defender contra os hereges.
Livro IX- O batismo e a volta para a
África
Após a
conversão, Agostinho decide abandonar a cátedra de retórica, pois já não se
sentia feliz ao ministrar aulas, na qual ensinava os jovens a discutir
questões, que segundo ele, eram inúteis à alma, além das dores nos pulmões que
havia sentindo, impediam-lhe de continuar a desempenhar a profissão.
Mesmo depois de
abraçar a fé cristã, o recém convertido sofria pela consciência dos erros
passados, buscava redimi-los. Também não se sentia apto ou minimamente pronto
para as exigências que esta doutrina causava, ou seja, a fé, o martírio, as
perseguições. A presença de
Mônica foi determinante na vida do santo, tanto na infância, na adolescência,
quando ainda não abraçara a fé e também após a conversão, sustentando- lhe em
suas incompreensões primarias a respeito da nova doutrina.
Assim, depois
de ter abraço a fé, abandonado as aulas de retóricas e a morte da mãe,
Agostinho volta para África, sua terra natal e onde, mais tarde, passará a
exercer o cargo de Bispo, ou seja, de pastor, aquele que presa e zela pela fé
dos demais cristãos. Aquele que outrora perseguia a condenava a fé cristã e
seus ensinamentos, passará a conduzir inúmeras pessoas no caminho da fé.
Conclusão
A filosofia e a
teologia agostiniana ainda são muito presentes no cristianismo, mesmo depois
que Santo Tomás de Aquino surgiu reinterpretando muitas coisas ditas por ele,
seu pensamento ainda perpetua. A conversão que o santo teve em sua vida atrai
inúmeros cristãos que desejam trilhar um caminho de santidade e busca pela
verdade, pois, este, é um modelo.
A
linha de pensamento de Santo Agostinho girava em torno de dualismos, herança de
Platão e dos maniqueístas orientais. Bem e mal, corpo e espírito eram
totalmente separados. O filósofo condenava os pecados da carne e alegava que a
fé era o essencial para a vida. Hoje ainda, suas ideias alimentam a vida
espiritual dos seguidores de Cristo, pois há correntes que defendem o desprezo
ao corpo.
Assim,
a vida deste santo é um marco na história seja positivo, ou negativo. Porém,
não pode negar que a contribuição que deu para que Filosofia a e Teologia
avançasse é inegável.
Referências
AGOSTINHO,
Santo, Confissões, 1984. Trad. Maria
Luiza Jardim Amarante; [revisão cotejada de acordo com o texto latino por
Antônio de Silveira Mendonça]. - São
Paulo: Paulus. – (Coleção Patrística)
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