sexta-feira, 3 de agosto de 2018

ANÁLISE DO LIVRO AS CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO


EDUARDO WILLIAN DA SILVA
HISTÓRIA DA FILOSOFIA
UNISAL- CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO
2º SEMESTRE DE 2017
BACHARELADO EM FILOSOFIA


CONFISSÕES

INTRODUÇÃO

Aurélio Agostinho, o Santo Agostinho de Hipona foi um importante bispo cristão e teólogo. Nasceu na região norte da África em 354 e morreu em 430. Era filho de mãe que seguia o cristianismo, porém seu pai era pagão. Sua vida pode ser analisada em diversas perspectivas, o contexto histórico, a angustia na busca pela verdade, ou seja, a passagem que faz por outras doutrinas, bem como o maniqueísmo, o ceticismo, até, posteriormente, abraçar a fé cristã e a filosofia.
Apesar de sofrer influências, desde crianças, respeito da fé cristã, o santo relutou muito até desejar abraça-la. Foi, pois, mediante a tantos acontecimentos simultâneos, como o contato com Santo Ambrósio, a conversão dos amigos, a ida para Itália e a angustia que sofria em prol do desejo de encontrar respostas para suas questões, ou seja, a origem do mal, como sendo a principal. Severas reflexões fizeram-no emergir do íntimo e expuseram-no toda a miséria à contemplação do coração.
O Maniqueísmo na vida de Agostinho é fator determinante para uma melhor compreensão da atuação de Deus. Mesmo que diante de algumas heresias levantadas por essa doutrina, sua chave de leitura em meio ao caos, no qual passava o santo, foi um grande passo dado em direção a si mesmo e, consequentemente, a Deus.





Livro I- Do nascimento aos quinzes anos.

Agostinho apresenta-se como um rapaz imaturo que ainda está compreendendo a si mesmo e as coisas. Sente-se, por parte dele, desconforto e arrependimento por ter vivido algumas partes da sua infância de maneira, interpretada por ele, errônea. Principalmente no que se refere aos estudos. “Para minha infelicidade, não entendi a utilidade desse trabalho; mas se me mostrava preguiçoso, era castigado a vara” (AGOSTINHO, 1984, p.27).
“Ainda menino, comecei a dirigir-me a ti, como a ‘meu rochedo e meu refúgio’” (AGOSTINHO, 1984), frisa o santo, mediante as dificuldades que enfrentava na escola, para que Deus o livrasse. Sua consciência diante de Deus é de pecador, por haver de desobedecer seus pais, pois “amava as disputas e o orgulho da vitória” (AGOSTINHO, 1984), isto fazia com que vivesse em distrações, não cumprindo o que lhe era pedido.
A visão que o santo tem de si é que seu corpo, ou seja, suas atitudes, mancham a pureza da alma. Percepção e compreensão fortemente platônica, no qual o corpo e a prisão da alma, que é pura, e necessita purificar-se e manter-se assim. “Quanto teria sido preferível para mim ser logo curado e esforçar-me, eu e os meus, para conservar intacta a saúde da minha alma” (AGOSTINHO, 1984). Em seus escritos, rejeita tudo o que se trata como mundano, até mesmo a literatura.


Livro II- Os dezesseis anos

Neste capítulo vê-se Agostinho na puberdade, desfrutando dos prazeres causados por esta fase, mas também por sua necessidade de mostra-se aos outros, de sentir orgulhoso e importante. Manifestando a arrogância que estava presente nele. Tinha o prazer de praticar o que era proibido (AGOSTINHO, 1984).
Sua ligação com Deus, na adolescência, era muito distante. Denota-se uma pessoa que gostava de curtir festas, de satisfazer os seus desejos, próprio de um jovem aventureiro. Nisto se manifesta, mais uma vez um sentido de culpa, porém vista sob o ângulo da “pós conversão”. Entretanto, era vivido de maneira totalmente livre de qualquer culpa. Assim, ele compreende que Deus calava-se vendo suas atitudes.

“Desde a adolescência, ardi em desejos de me satisfazer em coisas baixas, ousando entregar-me como animal a vários e tenebrosos amores! Desgastou-se a beleza da minha alma e apodreci aos teus olhos, enquanto eu agradava a mim mesmo e procurava ser agradável aos olhos dos homens” (AGOSTINHO, 1984, p. 45).

Denota-se, nesta fase da vida do santo, certa tendência ao Epicurismo, ou seja, ele buscava a Ataraxia, a paz interior, desfrutando-se dos prazeres, porém sem nunca desejar sofre-los. Entretanto, o desejo deste ideal, só encontrou, posteriormente, em Deus. “Quem mergulha em ti ‘entra no gozo do Senhor’” (AGOSTINHO, 1984, p. 58).


Livro III- Jovem estudante

Após sua mudança para Cartago, desejos, vontades e prazeres carnais ainda eram muito presentes na vida do santo. Assim, manchava as fontes da amizade com a sordidez da concupiscência e turbava a pureza delas com a espuma infernal das paixões (AGOSTINHO, 1984).  Atraía- lhe os sofrimentos alheios, imaginário, teatral, seduziam- lhe o desejo de chorar pelos gestos do ator, pois buscava motivos de dor, uma forma aplacar suas misérias.
Em Agostinho dá a impressão de um Deus que pune conforme as más condutas, porém de forma à educa-lo. “Por isso me punistes com graves castigos; mas estes eram nada diante das minhas culpas (...)” (AGOSTINHO, 1984. p. 65). O amor a sabedoria despertado por Hortênsio de Cícero, culminou no desejo por conhecer as Sagradas Escrituras, um livro que não se abre aos soberbos.  
A busca de Agostinho em saciar a sua fome interior, ou seja, encontrar a Deus, fez rejeitar as simples e profundas palavras a Bíblia e também aderir ao Maniqueísmo, heresia que, posteriormente, será combatida por ele. Descia os degraus das profundezas do inferno, atormentado pela sede da verdade enquanto buscava a Deus (AGOSTINHO, 1984).
O Maniqueísmo na vida de Agostinho é fator determinante para uma melhor compreensão da atuação de Deus. Mesmo que diante de algumas heresias levantadas por essa doutrina, sua chave de leitura em meio ao caos, no qual passava o santo, foi um grande passo dado em direção a si mesmo e, consequentemente, a Deus. Por desconhecer tais fatos, ria-se dos cristãos. Porém, compreende que era ele, que deveria ser escarnecido, por acreditar em tolices (AGOSTINHO, 1984).


Livro IV- O professor

Agostinho, inteligente como era, muitas vezes foi seduzido e sedutor, enganado e enganador, em meio às diversas paixões, ensinando, em público, as ciências chamadas liberais e, em particular, praticando uma religião indigna de tal nome. Utilizava-se da retórica como sustento de vida e também do próprio ego. Após a morte de seu amigo, encontrava-se desolado e banho em tristezas, unindo as suas angustias pela verdade das coisas. “Eu era infeliz, como infeliz é todo espírito subjugado pelo amor às coisas mortais, cuja perda o dilacera, e então deixe perceber a extensão da infelicidade que já o oprimia antes de perde-la” (AGOSTINHO, 1984, p. 93).
O “deus do santo” era como um fantasma irreal, era o seu próprio erro, no qual a alma não encontrava lugar para descansar.  Os dias se sucediam, e, com o passar do tempo, novas esperanças e outras lembranças, que não fosse a morte do amigo, se apresentavam, sua alma encontrava força para não deixar esvair-se mais ainda da Verdade. Foi-se percebendo que o mal pelo qual passava não era um Sumo Mal que guiava tais ações, como se fosse um outro deus, assim como ensinava o maniqueísmo, mas a ausência das escolhas boas. Entendia que a realidade é material, ou seja, corpórea, impedindo-o de compreender a verdade, por meio, também, das coisas espirituais. Não compreendia a ação de Deus.


Livro V- Da África à Itália

Ainda em Cartago, ao encontrar um Bispo maniqueu chamado Fausto, Agostinho admira-se a inteligência que este possuía, a maneira eloquente que envolvera já muitas pessoas. Precedia-o a fama de homem competentíssimo nas ciências mais nobres. Porém, Agostinho em uma visão mais avançada, ou seja, depois de abraçar a doutrina cristã, salienta que a “piedade é sabedoria”, e tudo quando descobriu-se de eclipse, calendários, horas, nada se compara a uma alma que está inundada em Deus.
Ele coloca em dúvida a doutrina do maniqueísmo, após o encontro com Fausto. A busca pelos astros, sol, lua, e outras ciências, não pareciam satisfazer a angustia que sentia, ao tentar responder as questões que lhe causava isso, ou seja, de onde parte todo este conhecimento, quem o rege. Quanto ao mais, o ardor que tivera em progredir nesta seite que abraçara arrefeceu completamente logo que conheceu este homem, mas não ao ponto de desligar-se radicalmente dos maniqueístas. Com feito, não encontrando solução melhor, decidira contentar-se temporariamente com ela, até encontrar ao mais claro que merecesse ser abraço (AGOSTINHO, 1984).
Acudira-se o fato da ideia de que os mais esclarecidos entres os filósofos eram os chamados Acadêmicos, quando afirmava ser preciso duvidar de tudo, e que o homem nada pode compreender da verdade, (talvez seja desse conceito que ele compreende que a Verdade, Deus, só pode ser conhecido se Ele se der a conhecer, ou seja, pela iluminação dada pelo mesmo).
Os fatos ocorridos na vida Agostinho foram convergindo para o seu encontro com a fé cristã, pois desejava aprofundar-se nas Sagradas Escrituras, mediante ao que sentia com as críticas que os maniques faziam a certas passagens. Além disso, sua dificuldade em ensinar retórica em Roma, também contribuiu para tal evento.
Seu encontro com Santo Ambrósio encantou-o pela maneira pelo qual discursava nem tanto pelo que conteúdo, pois seguia o maniqueísmo. Seu principal interesse pela fé católica, não foi pelo que pregava, mas sim pela maneira que era discursada, ou seja, o “poder de retórica”. Assim, abraçou previamente ao catecumenato da Igreja católica.


Livro VI- Agostinho aos trinta anos

A angustia do Santo de Hipona tornava-se calma a cada palavra que era pronunciada pelos lábios de Ambrósio. Estimava-o como a um “mensageiro de Deus”. Tinha sempre a oportunidade de consultar o santo oráculo que residia no coração daquele homem, para sanar suas dúvidas.
Tais palavras que eram ouvidas e que acalentavam-lhe o coração, passaram a clarear as nuvens que haviam na busca pela verdade, pois encontrava-as nos cursos de Ambrósio. A compreensão das Sagradas Escrituras foi o motivo pelo qual Agostinho abraçou a fé católica. Entendia-a ao pé da letra e assim era mais “fácil de criticar”, ou parecer uma mentira, como fábulas absurdas, incapazes de demonstração. Parece que ele encontrou familiaridade entre a fé relacionando-a com o que buscava, levando-o a interpretá-la com “olhares platônicos”. Segundo seu entendimento, a Sagrada Escritura é um caminho que leva a verdade.


Livro VII- A busca da verdade

A ideia de um ser imutável, inviolável, incorruptível perpassa, também, nas reflexões filosóficas de Agostinho. Entendia que tudo aquilo que é sujeito à corrupção é certamente inferior àquilo que não é, ou seja, o que não é passível de corrupção, colocava acima do que era. Um conceito fortemente enraizado nos primeiros filósofos quando buscava uma arché que contemplasse todas as coisas. Parece que o santo compreende bem isto.
A questão da origem do mal, tão discutida pelos maniqueístas, levou-o à colocar em cheque, tal doutrina.

Se tememos o mal sem motivo algum, é esse temor um mas, enquanto sem motivo nos perturba o coração, e tanto mais grave quanto nada há que temer. Portanto, ou o mal que tememos existe, ou o próprio fato de teme-lo é um mal. Mas de onde vem o mal, se Deus é bom e fez todas as coisas boas? (AGOSTNHO, 1984. p 175).

Tais eram as reflexões que agitavam seu pobre espírito, já sob o peso da pungente preocupação de morrer sem conseguir descobrir a verdade. A leitura dos platônicos leva Agostinho a buscar no próprio intimo a verdade e assim passa a rejeitar o dualismo maniqueísta. Para ele, todas as coisas são boas e não podem não ser. Pois, o mal que procurava não é uma substância, porque se fosse seria um bem.
A relação Agostinho e Deus intensificou-se mediante a estes acontecimentos que foram ocorrendo. Mesmo que ele afastasse por “fraquezas carnais”, seu coração estava voltado a Deus e já não duvidava absolutamente da existência de um ser a quem deveria estar unido.


Livro VIII- A conversão

A conversão de seu amigo Vitorino contado por Simpliciano despertou-lhe curiosidade e atenção quanto a fé católica, pois além de transformar a maneira de pensar e enxergar o mundo, ele renunciou ao que lhe mais agradava que era poder lecionar literatura e retórica, porque o imperador Juliano estipulara uma lei que proibia os cristãos de exercer tal função. Apesar de Agostinho querer seguir o mesmo caminho, a sua “vontade férrea” impedia-lhe.
As peças do quebra-cabeça de Deus na vida de Agostinho iam sendo paulatinamente encaixadas e as trevas da escuridão da alma se esvaindo, seja pela conversão dos amigos, pelas atitudes da mãe, pelo testemunho dos cristãos ou pela Sagrada Escritura, o seu interior era inundado por tantas inquietações.
A tempestade interior era cada vez mais intensa, tantos acontecimentos simultâneos, tantas doutrinas diferentes e nada de encontrar a verdade que lhe acalmasse e lhe desce paz. Severas reflexões fizeram-no emergir do íntimo e expuseram-no toda a miséria à contemplação do coração (AGOSTINHO, 1984). Assim, em meio a inúmeros acontecimentos a leitura da Sagrada Escritura foi determinante para a sua conversão. Narra o santo:

Peguei-o, abri e li em silêncio o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar: “Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne”.[1] Não quis ler mais, nem era necessário. Mal terminara a leitura dessa frase, dissiparam-se em mim todas as trevas da dúvida, como se penetrasse no meu coração uma luz de certeza. (AGOSTINHO, 1984, p. 227).
           
Enfim, encontrou em Deus a possibilidade de responder as questões que mais lhe causavam desconforto e agora passa a debruçar-se nesta doutrina, mas com a intenção de defender contra os hereges.


Livro IX- O batismo e a volta para a África

Após a conversão, Agostinho decide abandonar a cátedra de retórica, pois já não se sentia feliz ao ministrar aulas, na qual ensinava os jovens a discutir questões, que segundo ele, eram inúteis à alma, além das dores nos pulmões que havia sentindo, impediam-lhe de continuar a desempenhar a profissão.
Mesmo depois de abraçar a fé cristã, o recém convertido sofria pela consciência dos erros passados, buscava redimi-los. Também não se sentia apto ou minimamente pronto para as exigências que esta doutrina causava, ou seja, a fé, o martírio, as perseguições.          A presença de Mônica foi determinante na vida do santo, tanto na infância, na adolescência, quando ainda não abraçara a fé e também após a conversão, sustentando- lhe em suas incompreensões primarias a respeito da nova doutrina.
Assim, depois de ter abraço a fé, abandonado as aulas de retóricas e a morte da mãe, Agostinho volta para África, sua terra natal e onde, mais tarde, passará a exercer o cargo de Bispo, ou seja, de pastor, aquele que presa e zela pela fé dos demais cristãos. Aquele que outrora perseguia a condenava a fé cristã e seus ensinamentos, passará a conduzir inúmeras pessoas no caminho da fé.


Conclusão

A filosofia e a teologia agostiniana ainda são muito presentes no cristianismo, mesmo depois que Santo Tomás de Aquino surgiu reinterpretando muitas coisas ditas por ele, seu pensamento ainda perpetua. A conversão que o santo teve em sua vida atrai inúmeros cristãos que desejam trilhar um caminho de santidade e busca pela verdade, pois, este, é um modelo.
A linha de pensamento de Santo Agostinho girava em torno de dualismos, herança de Platão e dos maniqueístas orientais. Bem e mal, corpo e espírito eram totalmente separados. O filósofo condenava os pecados da carne e alegava que a fé era o essencial para a vida. Hoje ainda, suas ideias alimentam a vida espiritual dos seguidores de Cristo, pois há correntes que defendem o desprezo ao corpo.
Assim, a vida deste santo é um marco na história seja positivo, ou negativo. Porém, não pode negar que a contribuição que deu para que Filosofia a e Teologia avançasse é inegável.


Referências

            AGOSTINHO, Santo, Confissões, 1984. Trad. Maria Luiza Jardim Amarante; [revisão cotejada de acordo com o texto latino por Antônio de Silveira Mendonça]. -  São Paulo: Paulus. – (Coleção Patrística)


[1] Rm 13, 13s.

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